Por Paula Mendes, USF Maxisaúde
Pergunta clínica: Qual o efeito da suplementação com ácido fólico na incidência de neoplasias?
Desenho de estudo: Meta-análise de ensaios aleatorizados, pesquisados na base de dados da PubMed (concluídos até 2011). Foram incluídos os estudos que comparassem o ácido fólico vs placebo, com pelo menos 1 ano de tratamento, com pelo menos 500 participantes e fossem registados dados sobre a incidência de neoplasia. O principal outcome avaliado foi a incidência de neoplasia, definida como a primeira ocorrência de neoplasia (excluindo o melanoma) a seguir à aleatorização, mas durante o período de tempo do tratamento.
Resultados: Obtiveram-se 13 ensaios clínicos envolvendo no total 49621 pacientes (2/3 homens e com idade média de 64 anos). Três ensaios procuravam avaliar o efeito do ácido fólico na progressão de adenomas colo-retais e 10 ensaios na prevenção de doenças cardiovasculares. As doses diárias de ácido fólico variaram entre 0,5 mg e 5 mg, exceto num estudo que utilizou 40 mg (bastante superior à dose utilizada nos suplementos vitamínicos (0,1-0,8 mg) e na fortificação de farinhas (0,1-0,4 mg).
Verificou-se que o tratamento com ácido fólico não tem nenhum efeito significativo na incidência de neoplasia por todas as causas (7,7% de casos novos em pacientes tratados com ácido fólico vs 7,3% de eventos no placebo – RR 1,06, IC 95%), nem por local específico. Não se verificou aumento do efeito do ácido fólico com a maior duração do tratamento, nem com o sexo, idade, dose, suplementação populacional no país ou valor pré-tratamento de folatos no sangue.
Conclusão: O risco de incidência de neoplasia não parece modificar-se significativamente com a suplementação de ácido fólico a curto prazo, mesmo em doses elevadas.
Comentário: É evidente a importância da suplementação com ácido fólico antes e durante a gravidez para prevenção de defeitos do tubo neural. Inclusive, em alguns países, como nos E.U.A., é obrigatório a suplementação com ácido fólico na farinha. Os países da Europa Ocidental não o fazem por rotina por receio dos possíveis efeitos adversos na incidência de neoplasias. Baseiam-se no facto, por exemplo do metrotrexato (fármaco anti-folato) ser usado no tratamento de algumas neoplasias. Esta meta-análise, apesar de ser em grande escala, foi limitada pelo número de neoplasias ocorridas e pelo curto follow-up (média de 5,2 anos). Apesar disso, contrariou os dados obtidos por outra meta-análise de 2012 (n = 38000 pacientes), que sugeria um aumento da incidência de neoplasia prostática com a suplementação de ácido fólico.