Actualização USPSTF: rastreio da hipertensão arterial




Pergunta Clínica: os adultos devem ser rastreados para a Hipertensão Arterial (HTA)? Se sim, de que forma?

Enquadramento: A prevalência da HTA ronda os 30% na população adulta, constituindo um importante factor de risco cardiovascular. A evidência dos benefícios do rastreio da HTA está bem estabelecida e este é suscetível de provocar substancialmente mais benefícios do que danos para o doente. Contudo, os estudos não se debruçam sobre o rigor dos diferentes protocolos de medição ou identificam um procedimento padrão para a confirmação do diagnóstico. A norma da Direção Geral da Saúde (DGS) relativa à definição e classificação da HTA (norma nº 20/2011 actualizada a 19/03/2013) indica “para o diagnóstico de HTA é necessário que a PA se mantenha elevada nas medições realizadas em, pelo menos, duas diferentes consultas, com um intervalo mínimo entre elas de uma semana.”

Desenho do estudo: Revisão sistemática da evidência. Actualização de uma recomendação da US Preventive Services Task Force (USPSTF) de 2007, em que foi encontrada evidência indirecta substancial que suporta a efectividade do rastreio da HTA em adultos. No presente trabalho, foi avaliada a precisão diagnóstica de diferentes métodos confirmatórios de HTA após o rastreio inicial. Foram também avaliados dados relativos ao intervalo ideal para repetição do rastreio.

Resultados: A USPSTF encontrou evidência de que a pressão arterial (PA) no consultório pode predizer um diagnóstico de HTA de uma forma variável e que esta não é confirmada por MAPA em aproximadamente 5 a 65% dos participantes nos estudos. Perante estes dados, será necessário um método confirmatório após uma PA elevada no rastreio inicial. O diagnóstico de HTA por MAPA foi de uma forma consistente e significativa associado aos outcomes cardiovasculares, independentemente da PA medida no consultório. Dada a sua larga base de evidência, o MAPA é considerado o melhor teste confirmatório de HTA. A auto-medição da PA no domicílio (AMPA) poderá também ser um método confirmatório adequado, embora tenha menos evidência científica a suportá-la. Quatro estudos de boa qualidade demonstraram que a PA elevada em AMPA teria uma associação estatisticamente significativa com aumento de risco para eventos cardiovasculares. A percentagem de doentes a quem é diagnosticada HTA é significativamente mais elevada em afro-americanos, PA prévia normal-alta, excesso de peso ou obesidade, e idade igual ou superior a 40 anos. Assim, a população com estes factores de risco deverá ser rastreada anualmente, recomendando-se para a restante população adulta o rastreio a cada 3 a 5 anos.

Conclusão: É recomendado o rastreio de HTA em adultos através da medição de PA em consultório em adultos. O diagnóstico deverá sempre ser confirmado por MAPA e, se este não estiver disponível, pode optar-se pela AMPA, antes de se iniciar terapêutica. A periodicidade do rastreio depende da existência, ou ausência, de factores de risco.

Comentário: Contrariamente à norma da DGS, a USPSTF sugere que o diagnóstico de HTA necessita de um método confirmatório (MAPA ou AMPA), que são realizados no ambiente habitual do doente. No entanto, esta recomendação necessita de mais estudos que comparem a eficiência da AMPA versus MAPA. Também é necessário identificar e descrever o protocolo adequado de AMPA. Na prática clínica poderá optar-se pelo AMPA dadas as limitações ao uso do MAPA quer em termos de acessibilidade, quer em termos de custos para o doente. Em Portugal, infelizmente, o MAPA é, ainda, um exame complementar de diagnóstico não comparticipado.

Artigo original:Ann Intern Med

Por Pedro Santos, UCSP Ansião 


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