Antónia Lavinha

Leituras médicas: “Como Pensam os Médicos” por Jerome Groopman, Edição Casa das Letras, 2008

O tempo que se vai dedicando ao estudo continua a não estarcontemplado no nosso horário expresso, seja qual for o modelo em quetrabalhemos. Invadimos com uma total naturalidade o espaço de convíviofamiliar com vários períodos de tempo para estudo/ actualização. Poisfoi numa dessas tardes que consegui não preencher com da profissão que paradoxalmente descobri o Livro!

Descíamos o Chiado a um Domingo. Por azar (ou por sorte) alivraria estava aberta e…Há tanto tempo que não tinha um momento dedescontracção numa livraria! Não tencionava comprar nada. Apenas quisdar-me esse pequeno prazer. Percorrer as várias salas e reencantar-mecom o cheiro, cor e conteúdo de uma ou outra novidade. Recordo agora quefui “lá” ter .

Estava satisfeita com o voyeurismo possível e já me dispunhaa sair quando dei de caras com “Como Pensam os Médicos”. Ora comohão-de pensar? Uns melhor, outros pior… Mas como pode isso ser tema paraum livro? Tinha que lhe pegar e dar-lhe aquelas voltas habituais quenos permitem avaliar superficialmente um livro que nos suscitacuriosidade. Em destaque na contracapa podia ler-se “Como deve pensar ummédico? (mas há receitas?) Será que o factor emocional pode afectar umdiagnóstico? (claro!) O que se passa na cabeça de um médico quando tratade um doente? (vá-se lá saber? falamos tão pouco disso…).

Depois vinham por ali abaixo aquelas frases bombásticas dosjornais a promover o livro e o seu autor Jerome Groopman / Universidadede Harvard. Mas a capa não era nada apelativa: um batalhão deprofissionais de saúde fardados até “aos dentes” como se fossemenfrentar um outro batalhão, mas de doentes e de preferência com gripe A!

Por sorte abri-o na pagina certa : “As estatísticas nãopodem substituir o ser humano; as estatísticas personificam médias, nãoindivíduos.” E mais adiante “…Como pensa um médico quando é obrigado aimprovisar, quando se vê confrontado com um problema para o qualexistem poucos ou nenhuns precedentes? (Aqui os algoritmos sãobasicamente irrelevantes e as evidências estatísticas inexistentes) …”

Estava comprado…e lido de um fôlego. Às vezes sabe bem ver escrito por outros inquietações que nós já alguma vez tivemos.

 

 

Outras leituras: “O Pintor de Batalhas” por Arturo Pérez-Rever, Edições ASA, 1ª Edição – Março de 2007

Por outro lado a leitura de “O Pintor de Batalhas” deArturo Pérez-Reverte foi muito mais inquietante e inédita: vivi dentrodo livro. Senti-me aquele fotógrafo de Guerra que, talvez para exorcizaros traumas das imagens que foi aprisionando na sua máquina fotográfica,mais concretamente de um em particular, troca a máquina por pincéis evai colorindo as paredes de uma espécie de farol no Mediterrâneo .

Vivi todas as cenas num outro local: um velho moinho na ilha do Corvo- Açores.

Como os livros se enriquecem ou simplesmente alteram com onosso eventual protagonismo… Ninguém fica indiferente a um livro quecombina arte, ciência, guerra, amor, lucidez e solidariedade mesmo entrepessoas que teriam todos os motivos para se odiarem.

“Não era possível fotografar o perigo ou a culpa…” – em cenário de guerra.

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