Armando Brito de Sá

“Aequanimitas”. With other Addresses to Medical Students, Nurses and Practitioners of Medicine de Sir William Osler. New York: The Blakinston Division, McGraw-Hill, Inc. 1937

Sir William Osler (1849-1919) é uma das figuras marcantes daprática e do ensino da medicina do Século XX. Um conjunto decomunicações e conferências por si produzidas foi editado pela primeiravez em 1904; a segunda edição, de 1906, vê serem adicionadas trêsconferências, uma das quais, The fixed period, gerou forte polémica pelatese que defendia – de que a produção intelectual humana mais relevanteacontece até aos quarenta anos, e que a partir dos sessenta o homem setorna mais travão que alavanca de conhecimento.

O livro tomou o nome da primeira conferência, Aequanimitas,proferida a um de Maio de 1889, tendo-se tornado um dos mais conhecidoslivros na área médica no mundo anglo-saxónico.

Conheci Aequanimitas relativamente tarde – na verdade foramos escritos de Ian McWhinney que me puseram no encalço desta obra – edesde então tornou-se literalmente num dos meus livros de cabeceira.Naturalmente algumas das conferências estão hoje datadas, tendo perdidomuita da sua relevância.

O que torna este livro numa obra única é a formatranscendente como Osler reflecte sobre a medicina e o ser-se médico. Asimagens por ele transmitidas não se limitam a reflectir a sua concepçãoda medicina no virar do século XIX – homens (à época ainda rarasmulheres) cujo conhecimento médico tinha obrigatoriamente de assentarnuma sólida cultura clássica, viajados, actualizados cientificamente,sabedores tanto do ponto de vista teórico como competentes do ponto devista prático.

Osler escreve com a maior naturalidade aforismos epensamentos que, arrisco-me a predizer, serão lidos dentro de séculos, apar dos escritos hipocráticos.

 

 

“Cidadela” de Antoine de Saint-Exupéry. Prefácio e tradução de Ruy Belo. Lisboa: Editorial Presença. 1996 (1ª Edição)

Os livros do final da adolescência são, por norma, os maismarcantes nas nossas vidas. Não foi excepção comigo – algumas das obrasque mais prezo li-as nesse tempo.

A Cidadela, de Antoine de Saint-Exupéry, belissimamentetraduzida e prefaciada por Ruy Belo e ao tempo editada pela Aster, foide todas aquela a que regresso regularmente. Alia uma estética decontenção quase espartana a uma profundidade imensa, ainda que por vezesse sinta o pensamento divagar.

Este é, aliás, um repositório de textos não exactamentedispersos mas cuja organização não estava terminada: Saint-Exupérydesaparece antes da conclusão da obra. O cenário é o deserto: seco,duro, impiedoso, não tolerando a mínima fraqueza. O narrador é aqueleque governa a cidade, com um misto de piedade e punho de ferro. Conjuracom frequência a sabedoria do seu pai ao mesmo tempo que ministraensinamentos ao seu filho.

Deste modo a linha do conhecimento cursa harmoniosa entregerações. A decisão ética é aqui imperativa, e sempre um acto solitário.Cidadela é uma obra para todos os tempos e para todos os homens. Temos odever moral de a passar de geração em geração

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