Pergunta clínica: Nos doentes idosos, a utilização de terapêutica com benzodiazepinas aumenta o risco de desenvolver doença de Alzheimer?
Enquadramento: A causa mais frequente de demência é a doença de Alzheimer. Esta patologia tem início insidioso e deterioração mental progressiva com forte impacto no doente, família e comunidade pelo que é importante a identificação de eventuais factores de risco modificáveis.
Desenho do estudo: Estudo caso controlo, em que 1796 pessoas com diagnóstico de doença de Alzheimer e acompanhados há pelo menos 6 anos foram emparelhados com 7184 controlos tendo em conta o sexo, faixa etária e tempo de seguimento. Ambos os grupos foram aleatorizados a partir de uma população de pessoas idosas (idade> 66). A associação entre a doença de Alzheimer e o uso de benzodiazepinas pelo menos seis anos antes do diagnóstico foi avaliada. A exposição ao fármaco foi considerada em primeiro lugar e, depois, categorizada tendo em conta a dose cumulativa, expressa em doses diárias prescritas (1-90, 91-180,> 180) e a semi-vida do medicamento.
Resultados: O uso de benzodiazepinas, pelo menos seis anos antes do diagnóstico foi significativamente mais comum nos doentes com Alzheimer do que nos controlos (50% vs. 40%, odds ratio ajustada: 1,51). Este risco aumenta com a utilização mais prolongada dos fármacos (ou seja,> 180 PDD ou exposição cumulativa de mais de seis meses). A associação com a doença de Alzheimer foi mais forte para as benzodiazepinas de longa ação (1,70, 1,46-1,98) do que para as de curta ação (1,43, 1,27-1,61).
Conclusão: O uso de benzodiazepinas está associado a um risco aumentado para o desenvolvimento de doença de Alzheimer.
Comentário: Em Portugal o grupo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos (no qual se inserem as benzodiazepinas) apresenta níveis elevados de consumo (96 Dose Diária Definida por 1000 habitantes) e em crescendo (taxa de crescimento de 6% de 2000 a 2012). Para além dos dados já conhecidos relativamente aos riscos associados a este consumo (conferir por exemplo a NOC 55/2011) este estudo acrescenta informação relevante sugerindo uma eventual associação entre o uso prolongado de benzodiazepinas e doença de Alzheimer. Apesar de serem necessários mais estudos para comprovar cabalmente esta causalidade parece ser razoável concluir que estes fármacos devem ser usados com precaução em idosos.
Por Ana Luísa Alves, UCSP da Sé