Contracepção de longa duração na adolescência

 

Pergunta clínica: o uso de contraceptivos reversíveis de longa duração (CRLD) na adolescência é a estratégia de contracepção mais eficaz para a prevenção da gravidez na adolescência, quando comparada com outras estratégias?

Introdução: A taxa de gravidez na adolescência tem sido alvo de preocupação dos países desenvolvidos. Além dos elevados custos ao nível de cuidados de saúde, também a baixa escolaridade a que estas jovens são condicionados e consequente perda de potencial económico para os países demonstram o elevado preço que esta situação representa. Todos os anos cerca de 750.000 adolescentes engravidam, sendo que mais de 80% dessas gravidezes não são planeadas, o que demonstra a enorme necessidade desta população em obter uma contracepção eficaz. Desde 1990 a 2000 a gravidez na adolescência diminuiu de forma marcada e 86% desta redução é atribuída ao uso de métodos contraceptivos de forma eficaz e duradoura. Recentemente os CRLD têm sido usados de forma mais frequente em adolescentes mais velhas (18-19 anos), havendo em 2009 uma taxa de 4,5% de utilização destes métodos nestas faixas etárias.

Tipo de artigo e desenho de estudo: Recomendações de peritos (comité para a Adolescência e colaboradores da American Academy of Pediatrics) e estudo prospectivo de coorte. Este estudo englobou o seguimento de adolescentes que participaram no estudo CHOICE que promovia o uso dos CRLD em jovens e mulheres adultas com idades compreendidas entre 14 e 45 anos como prevenção da gravidez indesejada. Mediante informação sobre os métodos contraceptivos reversíveis, benefícios e efeitos secundários, as participantes escolhiam o método e este era disponibilizado gratuitamente. Os objectivos do estudo foram determinar a taxa de gravidez, nado-vivo e interrupção voluntária de gravidez (IVG) observadas nestas participantes.

Resultados: O estudo de Secura et al englobou 1404 adolescentes com idades compreendidas entre 14 e 19 anos. A maioria das jovens escolheu um método CRLD (72%). O implante contraceptivo foi escolhido pelas adolescentes mais jovens (50% vs 26,4%) e o dispositivo intra-uterino (DIU) pelas mais velhas (42% vs 27,5%). Durante o período 2008-2013 as taxas de gravidez, nascimento de nado-vivo e IVG nas participantes desta coorte foram 34%, 19,4% e 9,7%, respectivamente, comparativamente às mesmas taxas encontradas em jovens sexualmente activas no ano de 2008 (158,5%, 94% e 41,5%, respectivamente).

Conclusão: As taxas de gravidez, nascimento de nados-vivos e IVG entre adolescentes e mulheres adultas são menores quando estas recebem informação clínica adequada sobre métodos contraceptivos, particularmente métodos CRLD e quando lhes é facilitado o seu acesso e fornecimento gratuito.

Comentário: Estes artigos evidenciam uma mudança no paradigma relativamente aos CRLD (DIU e implante contraceptivo) na adolescência. As Sociedades Portuguesas de Ginecologia, Medicina de Reprodução e da Contracepção referem no Consenso sobre Contracepção (2011) que “a idade por si só não constitui contra-indicação à utilização de qualquer método contraceptivo” pelo que “a maioria dos métodos pode ser usada sem restrições”. Não obstante é salientado que o DIU de cobre ou o SIU com levonorgestrel necessitam de um acompanhamento cuidadoso (categoria 2) e “nas nulíparas pode existir maior dificuldade de colocação e, dada a maior taxa de expulsão, a indicação deve ser individualizada”. A contracepção dupla (uso de método hormonal e preservativo) continua a ser fundamental (prevenção simultânea das infecções de transmissão sexual). Na abordagem da contracepção juvenil a entrevista motivacional deve ser utilizada garantido a confidencialidade, promovendo a participação activa e respeitando os valores e decisões informadas da adolescente.

Artigo original: Pediatrics

 Artigo original:NEJM

Por Marta Pessoa, USF Buarcos

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