Pergunta clínica: Que intervenções não farmacológicas podem aumentar a duração do sono em crianças?
Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise, utilizando como fonte de informação várias bases de dados, incluindo a CENTRAL, MEDLINE e PsycInfo, assim como bases de registo de ensaios clínicos. Foram incluídos ensaios clínicos aleatorizados com intervenções não farmacológicas para aumentar a duração do sono em crianças saudáveis. A selecção de estudos foi efectuada de forma independente por dois revisores. A revisão sistemática seguiu as orientações PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). Para a meta-análise foi utilizado o modelo de efeitos aleatórios. Os autores escolheram como marcador (outcome) primário a diferença na duração do sono, medida em minutos.
Resultados: 45 ensaios foram incluídos para revisão, com um total de 13,539 crianças participantes. Destas, 6897 (50.9%) estavam no grupo de intervenção e 6642 (49.1%) no grupo de controlo. Foram poucos os estudos que apresentaram baixo risco de viés. As crianças no grupo intervenção registaram um aumento de tempo de sono noturno de 10,5 minutos, em média. De referir a elevada heterogeneidade entre os estudos (I2 = 87%). Os autores abordaram esta heterogeneidade, realizando várias análises por subgrupos (nível escolar, condição socioeconómica, método utilizado para avaliação da duração de sono, local de intervenção (casa vs. escola), presença parental, etc.). A medida com um maior impacto foi a antecipação da hora de deitar, que se associou a um aumento do período de sono de 47 minutos (IC 95%, 18.9-75.0; 3 ensaios). Apesar de terem sido avaliados outros marcadores, como a qualidade do sono, não foi possível incluir na meta-análise, tendo em conta a maracada heterogeneidade.
Comentário: O estudo sugere que intervenções focadas em antecipar a hora de deitar poderão ser uma maneira simples e efetiva de aumentar a duração de sono noturno em crianças saudáveis, sendo que a evidência tem demonstrado que uma duração adequada do sono é necessária para o bem-estar e desenvolvimento das crianças. Não obstante, a presente revisão sistemática não avaliou outcomes orientados para a criança, que seriam importantes para avaliar aspetos relacionados com a saúde e rendimento académico.
Por Rita Vasconcelos, USF Faria Guimarães & Sofia Baptista