Desemprego

Pensávamos que os médicos estavam à margem deste flagelo.

Não estão.

Sucessivos erros de planeamento de recursos humanos médicos, conjugados com visões narcísicas e uma lógica política de ataque directo a uma classe profissional tiveram o resultado esperado – há médicos a que não foi possível atribuir um espaço para especialização, atirando-os para uma situação impensável.

Os próximos tempos são de pioria.

Uma plêiade de estudantes expatriados deseja voltar para fazerem internato em Portugal.

Um número assustador de estudantes aspira a legitima licenciatura, mesmo que usufruindo de novos caminhos artisticamente abertos nas “novas” faculdades.

O Governo quer objectivamente permitir a criação de médicos sem especialidade e, de preferência, um corpo saudável e amestrado de desempregados que quebrem a espinha aos “privilégios” médicos.

Nem a moderna visão do mundo como local de trabalho ameniza a preocupação das famílias e suaviza a injustiça dos licenciados com canudo mas sem futuro.

Nem a hipocrisia dos países ricos, sedentos de médicos especialistas com invejável formação, vai resolver o excesso de formação de licenciados em relação às necessidades reais do País, descontada já a apetência não genérica de emigração, tragédia lusa datada na saga marítima, em África, no bidonville e na valise de cartão.

Pelo meio, dilectos e empenhados pares participam alegremente em excursões pela América do Sul na angariação de mão de obra serena e até revolucionária, investida em Brigada de Saúde, para colaborarem, supostamente a título provisório, a “colaborarem” com o nosso SNS incapaz de fazer contractos de trabalho com portugueses.

O que resulta de tudo isto é uma sensação de profundo incómodo pela percepção da sucessiva incompetência governativa e dirigente.

Portugal conseguiu criar uma Carreira Médica, uma Formação Médica e um SNS muito decente… apesar dos políticos.

Não será tempo de se perceber que a entrada triunfal dos gestores nos Hospitais só lhes acrescentou esquemas, buracos e dívidas?

Não será a Saúde matéria séria demais para políticos e contabilistas?

E os médicos, enquanto classe, estão disponíveis para a intransigência da qualidade na prestação de cuidados aos “seus” doentes?

Carlos ArrozMais OpiniãoMaisOpinião - Carlos Arroz
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