USPSTF: rastreio da sífilis




Pergunta Clínica: Devemos rastrear a sífilis em adultos e jovens adultos fora da gravidez?

Enquadramento: Segundo os dados do Center for Disease Control (CDC), em 2014 foram reportados nos Estados Unidos da América 19.999 casos de sífilis (6.3 em cada 100.000). Quando não tratada, em cerca de 15% dos casos progride para doença prolongada, podendo manifestar-se com lesões inflamatórias (aortite, lesões gumatosas e osteíte) que podem culminar em falência cardiovascular ou disfunção de órgão. Caso haja infecção do Sistema Nervoso Central (neurossífilis), esta pode apresentar-se como cegueira, parésia, tabes dorsalis e demência. A infecção por sífilis aumenta também a probabilidade de transmissão do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).

Desenho do estudo: Revisão sistemática da evidência publicada até à data. A United States Preventive Services Task Force (USPSTF) emitiu novas recomendações para o rastreio de sífilis em indivíduos adultos e adolescentes assintomáticos, fora da gravidez, de forma a prevenir doença prolongada e transmissão sexual.

Resultados: Verifica-se evidência consistente de que os benefícios decorrentes desta abordagem, tais como a cura, a prevenção de manifestações tardias e de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis superam os possíveis malefícios (falsos positivos, ansiedade e estigma de infecções sexualmente transmissíveis). Desta forma, preconiza-se que os indivíduos com risco elevado de infecção por sífilis devem ser rastreados, sendo estes homens que têm sexo com homens , homens ou mulheres com infecção por VIH, história pregressa de encarceramento ou de trabalho em comércio sexual e em homens entre os 20 e os 29 anos. A etnia e geografia deve ser tida em conta, sendo que os clínicos devem ter conhecimento da prevalência de sífilis da população/comunidade em que trabalham. Destacam-se os grupos de doentes com etnia negra, hispânica, índios/nativos do Alaska ou da região do Pacífico/Havai, bem como os grupos provenientes de regiões metropolitanas.

Conclusão: Recomenda-se o rastreio da sífilis aos grupos considerados de risco (supramencionados). Propõe-se como método a combinação entre um teste treponémico (FTA-ABS ou TP-PA) com um teste não-treponémico (VDRL ou RPR). No caso de não concordância entre os resultados, deve realizar-se um segundo teste treponémico. No caso dos doentes com VIH ou homens que têm sexo com homens, sugere-se uma periodicidade de 3 meses em vez de anual.

Comentário: As presentes recomendações são concordantes com dados emitidos por outras entidades como o CDC, a American Congress of Obstetricians and Gynecologists, a Infectious Diseases Society of America, e a American Academy of Family Physicians. A sua adopção na realidade portuguesa necessitaria de mais estudos para caracterizar os grupos de risco da nossa população e pesar os dados epidemiológicos com os custos desta abordagem.

Artigo original: JAMA

Por Carla Veiga, UCSP São Neutel



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