Diogo Costa @ Frankfurt

 

 

A ausência de recursos, a falta de organização e saber que na Alemanha poderia chegar mais longe foram alguns dos fatores que pesaram na decisão.

 

Onde estás a viver neste momento e há quanto tempo? Porque é que decidiste rumar à Alemanha após terminares o curso de Medicina e fazeres o internato de formação geral (“ano comum”) em Portugal?Em Frankfurt. Há quase dois anos. Terminei o internato de formação geral e ainda trabalhei um ano como interno de formação específica. A decisão ficou tomada alguns meses depois de começar a trabalhar como interno de formação geral. A ausência de recursos, a falta de organização e saber que na Alemanha poderia chegar mais longe foram alguns dos fatores que pesaram na decisão.

Em que hospital estás a trabalhar e como tem sido a experiência do internato de Neurocirurgia na Alemanha?
Eu trabalho no Hospital Universitário de Frankfurt. O complexo hospitalar é um dos maiores do mundo e o departamento de Neurocirurgia está integrado num só hospital juntamente com a Neurologia e a Neurorradiologia. A experiência tem sido incrível! O nosso departamento dispõe de internamentos normais, intermédios e intensivos em que apenas são doentes da nossa especialidade que estão lá internados. Dispomos de um bloco exclusivo para nós, sala de urgência, emergência, laboratório, serviço de investigação… tudo isto funciona apenas em nossa função.

 

 

Hospital Universitário de Frankfurt

 

 

Com os turnos que faço, neste momento, como interno, recebo três vezes mais do que um diretor de serviço em Portugal.

 

 

Do que já pudeste conhecer, é muito diferente ser-se médico em Portugal e na Alemanha?
A diferença é muito grande a vários níveis. O meu hospital acaba por não ser representativo da realidade alemã por ser um hospital universitário, integrado naquela que é uma das cidades com mais recursos do mundo. Poderei enumerar algumas das diferenças para que seja mais perceptível a diferença:
– Não existem problemas sociais (“casos sociais”).
– Tenho muito apoio para fazer investigação científica: neste momento tenho vários projectos em simultâneo, desde estudos retrospetivos, como estudos prospetivos, multicêntricos.
– Não existe falta de recursos para nada: temos ao nosso dispor duas máquinas de ressonância. Isto apenas para o nosso serviço.
– Todo o tipo de cirurgias que existe no mundo nós fazemo-las.
– Temos equipas de Fisioterapia que trabalham diariamente com todos os doentes.
– Todas as reuniões que temos ao longo do dia iniciam e terminam pontualmente.
– No final acabo por ser intensivista porque somos responsáveis por cuidados intermédios e intensivos.
– Trabalho muitas horas e não existem pausas, mas acaba por compensar porque todas as horas extra são pagas ou oferecem dias livres.
– Salário: a contar com os turnos que faço, neste momento, como interno, recebo três vezes mais do que um diretor de serviço em Portugal. Na Alemanha os salários diferem consoante o estado e o Hospital. Regra geral, os estados do sul e os hospitais universitários são os que oferecem melhores salários.
– Frankfurt está incluído no estado de Hessen e neste existem clínicas de reabilitação com cuidados intensivos. Isto significa que mal tratemos a situação aguda do doente podemos transferi-los para estas clínicas ainda intubados.
– Os Hospitais universitários acabam por dar mais trabalho, no entanto, tem toda a componente universitária de ter alunos a acompanharem-nos por exemplo.

Que conselhos podes deixar aos colegas que equacionam uma experiência internacional como a tua?
Que tenham em mente que não é um mar de rosas. As burocracias são muito chatas. Estar longe da família e amigos também não é fácil. No entanto, se sentem que querem e que o país não oferece aquilo que desejam, vale a pena arriscar.

 

 

 

Planeias regressar a Portugal? Do que sentes mais falta?
Planeio regressar a Portugal se alguns fatores estiverem reunidos: se puder fazer parte da componente académica e se puder realizar as várias cirurgias que em Portugal não se fazem.
Sinto falta de muita coisa: família, amigos, comida (sou eu que faço todas as refeições para levar para o hospital), as pausas de cafés com os colegas no hospital, poder falar e exprimir-me na minha língua, o mar, a facilidade com que se come bem em qualquer sítio. Da melhor cidade do mundo que é o Porto…
Em geral, posso dizer que foi de longe uma das melhores decisões da minha vida!

Por Sofia Baptista

 

 

 

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