Vitamina D em adultos sem patologia esquelética: justifica-se?

Por Mariana Rio, USF São João do Porto

 


Pergunta clínica: em adultos sem patologia esquelética deve ser aconselhada a ingestão de suplemento de vitamina D?

Enquadramento: a influência da vitamina D no sistema esquelético é bem conhecida, porém, o seu efeito “não-esquelético” é fonte de especulações e incertezas. O “défice de vitamina D” tem estado em voga nos últimos tempos. Têm surgido teorias de que a crescente tendência do desenvolvimento do sector terciário, com cada vez mais pessoas sujeitas a ambientes fechados e com luz artificial, aliado à deslocação em transporte próprio seja a causa de diminuta exposição solar e consequente défice de vitamina D.

Desenho do estudo: Revisão sistemática de estudos prospectivos (um total de 290) e ensaios randomizados (um total de 172) que se reportavam aos efeitos da vitamina D no risco de desenvolver patologia não-esquelética ou relacionados com o estado inflamatório.

Resultados: a maioria dos estudos prospectivos encontrou uma relação inversa entre as concentrações de vitamina D e o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, dislipidemia, inflamação, patologia do metabolismo da glucose, ganho de peso, patologia infecciosa, esclerose múltipla, alterações do humor, défices cognitivos e mortalidade. Não foi encontrada associação entre valores altos de vitamina D e baixo risco de desenvolver neoplasias, excepto no caso do cancro do intestino (menos 33%). A suplementação com esta vitamina não diminuiu o risco de aparecimento das patologias atrás referidas, nem de cancro do intestino. Apenas demonstrou uma leve diminuição na mortalidade dos idosos suplementados com 20 μg/dia.

Comentário: Existe discrepância entre a eventual associação de défice de vitamina D e patologia não esquelética. Está demonstrado que níveis baixos de concentração de vitamina D poderão ser consequência e não a causa de patologia. Os que seguem a “teoria” anteriormente descrita justificam a falta de eficácia da suplementação através da utilização de doses insuficientes de suplemento, a utilização da suplementação numa população com défices vitamínicos mínimos ou formulações incorretas e o tempo de follow-up insuficiente. No entanto tendo em conta a literatura científica publicada conclui-se que em adultos sem patologia esquelética não deve ser aconselhada a ingestão de suplemento de vitamina D. Saliente-se ainda que a administração de vitamina D como suplemento poderá ser prejudicial quando administrada em doentes com patologia hepática, renal ou vascular.

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