Gasimetria venosa vs gasimetria arterial




Pergunta clínica: Será que a gasimetria venosa pode substituir a gasimetria arterial na avaliação dos doentes com exacerbação da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)?

Enquadramento: A exacerbação da DPOC é um dos principais motivos de entrada no Serviço de Urgência. O protocolo na abordagem do doente inclui a realização de gasimetria arterial. Contudo, a gasimetria arterial é dolorosa, pelo que se estudam métodos alternativos como a análise gasimétrica de sangue venoso.

Desenho do estudo: Estudo transversal. A amostra constitui-se por 234 doentes, admitidos no Serviço de Urgência, por exacerbação da DPOC. Foram recolhidas amostras de sangue arterial e venoso para análise gasimética, registo de oximetria de pulso para avaliação da saturação de oxigénio e avaliação da dor do procedimento, através de uma escala visual-analógica de 10 pontos. O marcador primário avaliou a concordância dos parâmetros venosos e arterial de pH, CO2, HCO3- e entre a saturação de oxigénio da gasimetria arterial e oximetria de pulso. Como objectivo secundário avaliou-se a dor e o número de tentativas para obtenção da amostra sanguínea.

Resultados: Verificou-se boa concordância entre o sangue venoso e arterial para o valor de pH (diferença média de 0,03  IC95% -0,05 a 0,11) e HCO3- (diferença média de -0,04 IC95% -2,90 a 2,82), contudo o valor de CO2 variou significativamente (diferença média de -0,75 – IC 95%; -2,91 a 1,41). Quanto ao valor de SaO2 e SpO2 também existiu boa concordância para doentes com SpO2 ≥80% (diferença média de -0,17 IC95% -11,12 a 10,78). Calculou-se a capacidade preditiva das amostras venosas na identificação de amostras cujo pH arterial ≥ 7,35 encontrando uma sensibilidade de 88,9% e especificidade de 95,6%. Quanto ao valor de HCO3- arterial ≥21 a sensibilidade foi de 96% e especificidade de 100%. A oximetria de pulso apresentou uma sensibilidade de 78% e especificidade de 72%. As amostras arteriais requereram mais tentativas (69,2% das vezes é obtida com uma tentativa vs 90,2% da punção venosa) e foram mais dolorosas (dor média de 4 para arterial e 1 para venosa, p<0,001) .

Comentário: O estudo conclui a existência de uma concordância aceitável entre a gasimetria venosa e a gasimetria arterial quando a SpO2>80%. Como grande parte dos doentes com exacerbações da DPOC apresenta cateter venoso para colheita de outros produtos, estes resultados poderão alterar os algoritmos de actuação, permitindo a análise gasimétrica em sangue venoso, diminuindo o sofrimento de múltiplas tentativas de colheita de sangue arterial. Contudo, são necessários mais estudos para confirmar a relação entre os valores arteriais e venoso de CO2 e a aplicação deste método a doentes com outras comorbilidades.

Artigo original: Thorax

Por Vanessa Moreira, USF Prado 



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