Em caso de hemorragia digestiva alta a endoscopia pode ser realizada até às 24 horas

 

 

Pergunta clínica: Em doentes com hemorragia digestiva alta aguda realizar endoscopia digestiva alta de forma urgente (nas primeiras 6 horas) associa-se a menor mortalidade do que fazê-lo até às 24 horas?

População: doentes com hemorragia digestiva alta aguda e maior risco de hemorragia mantida ou morte
Intervenção: realização de endoscopia digestiva alta em menos de 6 horas após avaliação por gastroenterologia
Comparação: realização de endoscopia digestiva alta entre as 6 e as 24 horas após avaliação por gastroenterologia
Marcador (Outcome): morte por qualquer causa aos 30 dias

Enquadramento: É recomendado que doentes com hemorragia gastrointestinal alta aguda sejam submetidos a endoscopia digestiva alta nas 24 horas após avaliação por gastroenterologia. No entanto, os eventuais benefícios de realizar endoscopia mais precoce carecem ainda de evidência científica.

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado. Foram incluídos adultos com score de Glasgow-Blatchford igual ou superior a 12 (score que varia entre 0 e 23, valores superiores associam-se a maior risco de hemorragia mantida e morte). Os participantes foram aleatorizados 1:1 para o grupo de intervenção (endoscopia urgente) ou para o grupo de controlo (endoscopia entre as 6 e as 24 horas). Excluíram-se doentes hemodinamicamente instáveis. Considerou-se como marcador (endpoint) primário a morte por qualquer causa aos 30 dias. Marcadores secundários incluíram hemorragia mantida, duração do internamento, abordagem cirúrgica de emergência, transfusões sanguíneas e intercorrências aos 30 dias. Na análise estatística dos dados, considerou-se significativa uma diferença relativa de 50% em mortalidade.

Resultados: Foram incluídos 516 adultos. Não se registou diferença significativa entre os dois grupos na mortalidade por todas as causas aos 30 dias, com 23 mortes (8,9%) no grupo intervenção e 17 (6,6%) no grupo de controlo. Destes, respectivamente, 5 e 2 foram atribuídas directamente a hemorragia digestiva, enquanto 11 e 8 tinham o diagnóstico de neoplasia avançada. Relativamente à manutenção da hemorragia, duração do período de internamento e transfusões também não foram encontradas diferenças significativas.

Comentário: Este estudo sublinha uma máxima que muitas vezes poderá ser contra-intuitiva, especialmente no mundo moderno – nem sempre mais rápido é melhor. Face a um quadro de hemorragia digestiva alta aguda não parecem existir diferenças na mortalidade entre a realização de endoscopia até às 6h ou entre 6-24h. Não obstante, estes resultados não se podem generalizar aos doentes instáveis ou a regiões com elevada prevalência de varizes esofágicas.

 

Artigo original: NEJM

Por Guilherme Oliveira, USF Esgueira +

 

 

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