Doença cardiovascular após infeção por SARS-CoV-2

 

 

Pergunta clínica: O risco de doença cardiovascular aumenta na sequência de infecção por SARS-CoV-2?

Desenho do estudo: Coorte retrospetivo, realizado nos EUA, com recurso à base de dados nacionais de saúde da US Department of Veterans Affairs. Foi constituída uma coorte de 153.760 indivíduos que apresentaram um resultado positivo para COVID-19 e que estavam vivos 30 dias após a infeção e dois grupos de controlo: uma coorte contemporânea (CC) composta por 5.637.647 indivíduos sem evidência de infeção por SARS-CoV-2 e uma coorte histórica (CH) composta por 5.859.411 indivíduos não infetados por COVID-19 em 2017. Estes grupos foram analisados longitudinalmente para estimar o risco e a incidência de eventos cardiovasculares 12 meses após a infeção por SARS-CoV-2, tendo em consideração a gravidade da infeção aguda (indivíduos não hospitalizados, hospitalizados e internados nos cuidados intensivos). No estudo foram considerados como eventos cardiovasculares diversas patologias, tais como, acidentes cerebrovasculares, arritmias, doenças tromboembólicas e cardiopatias inflamatórias e isquémicas.

Resultados: A média de idades foi de 62 anos, 75% eram caucasianos e 90% do sexo masculino. Registou-se um aumento de risco de eventos cardiovasculares nos 12 meses subsequentes a infecção COVID-19, com maior risco para aqueles com doença COVID grave. Verificou-se um aumento do risco de qualquer evento cardiovascular nos indivíduos do Grupo COVID-19 comparativamente à coorte comtemporânea (Hazard ratio 1,63; IC 95%: 1,59-1,68). A carga excedentária para o marcador composto por mortalidade por todas as causas, enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral foi de 13, 51 e 138 por 1000 pacientes, respectivamente, nos grupos de não hospitalizados, hospitalizados e internados em unidades de cuidados intensivos. A carga excedentária de ocorrência de qualquer evento cardiovascular foi de 26, 161 e 312 por 1000 pacientes, respectivamente, nos grupos não hospitalizados, hospitalizados e internados em unidades de cuidados intensivos.

Comentário: Este estudo mostra um aumento considerável de eventos cardiovasculares nos 12 meses seguintes à infeção. É verdade que o risco é menor nas pessoas que tiveram COVID-19 ligeira, mas mesmo nesses, ocorreram cerca de 26.000 eventos cardiovasculares adicionais, incluindo 13.000 eventos cardiovasculares major (MACE) por milhão de doentes com COVID-19. Este estudo vem corroborar os resultados dos estudos pré-existentes, trazendo como novidade o estudo do risco cardiovascular nos indivíduos que não necessitaram de hospitalização durante o período de infeção por SARS-CoV-2. Estes resultados devem alertar os médicos e os pacientes para a importância da prevenção cardiovascular no pós-COVID.

Artigo original: Nat Med

Por Ana Sofia da Costa Oliveira, USF da Barrinha

 

 

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