Hipertensão diastólica isolada não se associa a risco cardiovascular aumentado

 

 

Pergunta clínica: A hipertensão diastólica isolada aumenta o risco de eventos cardiovasculares?

Enquadramento: As orientações clínicas publicadas em 2017 pelo American College of Cardiology e pela American Heart Association vieram alterar a definição de hipertensão arterial utilizada até então – valores iguais ou superiores a 140/90mmHg, previamente definidos pela Joint National Committee – para valores mais baixos, isto é, iguais ou superiores a 130/80mmHg. Consequentemente, a definição de hipertensão arterial diastólica isolada sofreu, igualmente, alterações. Todavia, a redução do limite dos 90 para os 80mmHg baseou-se única e exclusivamente com base na opinião de peritos e não em ensaios clínicos.

Desenho do estudo: Os investigadores analisaram dados proveniente de estudos de coorte observacionais prospetivos, nomeadamente o National Health and Nutrition Examination Survey (n=9590) e o Atherosclerosis Risk in Communities Study (n=8703) com o objetivo de avaliar a prevalência de hipertensão arterial diastólica isolada em adultos nos Estados Unidos da América antes e após a entrada em vigor destas novas orientações e verificar quantos destes novos hipertensos passariam a ter indicação para iniciar farmacoterapia. Pretendeu-se avaliar se, comparativamente a indivíduos normotensos, os indivíduos com hipertensão arterial diastólica isolada teriam um maior risco de doença cardiovascular, insuficiência cardíaca congestiva, doença renal crónica, mortalidade por doença cardiovascular e mortalidade por todas as causas.

Resultados: A mediana do período de seguimento foi de 25,2 anos.  A prevalência de hipertensão arterial diastólica isolada foi de 1,3% de acordo com a definição do Joint National Committee e 6,5% utilizando a definição da American College of Cardiology /American Heart Association  de 2017. Apenas 0,6% destes novos hipertensos tinham indicação para terapêutica farmacológica. Comparativamente com os indivíduos normotensos, não se registaram diferenças estatisticamente significativas nos indivíduos com hipertensão arterial diastólica isolada no que diz respeito ao risco de doença cardiovascular  [Hazard Ratio: (HR) = 1,06 IC 95% 0,89-1,26], insuficiência cardíaca congestiva  (HR = 0,91 IC 95% 0,76-1,09), doença renal crónica (HR = 0,98 IC 95% 0,65-1,11), mortalidade cardiovascular (HR = 1,17 IC 95% 0,87-1,56) e mortalidade por todas as causas (HR = 1,02 IC 95% 0,92-1,14).

Comentário: Este estudo não encontrou um risco aumentado de eventos cardiovasculares adversos associados à hipertensão diastólica isolada. Por outro lado, a implementação das novas orientações implicou um aumento da prevalência de hipertensão diastólica isolada de 1,3%  para 6,5%. Este é um exemplo claro como a alteração dos limiares de diagnóstico conduz à rotulação desnecessária de pessoas saudáveis contribuindo para o sobrediagnóstico e sobretratamento.

Artigo original: JAMA

Por Filipe Cabral, USF Marco

 

 

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