Infeções respiratórias: (in)eficácia no alívio dos sintomas?


Pergunta clínica: Nas infeções agudas do trato respiratório as terapêuticas usadas para alívio dos sintomas (ibuprofeno, paracetamol, inalação de vapores) são eficazes?

Enquadramento: Os sintomas das infeções agudas do trato respiratório são, sem dúvida, um dos motivos de consulta mais comuns, principalmente nas crianças. No entanto, não existe uma evidência clara da eficácia dos fármacos e terapêuticas prescritas para alívio dos sintomas associados a estas situações.

Desenho do estudo: Foi realizado um ensaio clínico aleatorizado, aberto e pragmático, com 889 doentes,com idade igual ou superior a 3 anos e infeção aguda do trato respiratório. A cada um deles foi entregue um envelope contendo 1 de 12 conjuntos de conselhos, elaborados através da combinação de 3 fatores: o fármaco antipirético (paracetamol, ibuprofeno, ou a combinação dos dois fármacos alternados), o esquema posológico do antipirético (tomas em esquema fixo ou apenas em SOS), e a associação ou não de inalação de vapores. Foi avaliada a gravidade dos sintomas ao 2º e 4º dia de evolução.

Resultados: Não se verificou uma diferença significativa na evolução sintomática relacionada com o esquema posológico e com a associação ou não da inalação de vapores. Em relação ao fármaco antipirético, poderá existir algum benefício associado à toma de ibuprofeno, quando comparado com o paracetamol, mas apenas em doentes com sintomas torácicos e em crianças. Contudo, no grupo de doentes tratados com ibuprofeno, foi registado um maior tempo de evolução da doença, em alguns casos com persistência dos sintomas até um mês, e um discreto aumento do número de consultas pelo mesmo motivo.

Conclusão: De uma forma geral, nem a inalação de vapores nem a preferência pelo ibuprofeno em detrimento do paracetamol mostraram benefício no controlo dos sintomas da infeção aguda do trato respiratório. O ibuprofeno poderá ser superior apenas no controlo sintomático a curto prazo em crianças ou em casos de sintomas torácicos, embora se tenha registado, em alguns doentes deste grupo terapêutico, a persistência dos sintomas até um mês de evolução.

Comentário: É um artigo interessante que aborda um tema muito comum na prática clínica diária de um Médico de Família para o qual não existe atualmente evidência sustentada. No estudo realizado procura-se determinar e comparar, de forma objetiva, apesar da subjetividade inerente à uma avaliação clínica dos sintomas, a eficácia de vários esquemas terapêuticos frequentemente usados nas infeções do trato respiratório. A conclusão, concordante com a de outros estudos semelhantes, é a de que não existe diferença significativa entre a toma de paracetamol e a de ibuprofeno, podendo este último ser apenas ligeiramente mais eficaz em crianças embora possa prolongar a patologia. Fica também a noção de que o esquema posológico do antipirético e a associação da inalação de vapores não interferem significativamente na evolução dos sintomas desta patologia.

Artigo original: BMJ

Por Luís Paixão, UCSP Fernão de Magalhães 

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