Síndrome de abstinência informática






“Hoje tenho a agenda preenchida. Ainda bem que cheguei um pouco mais cedo. Vamos a isto”.

Das inúmeras formas que um dia de consultas pode decorrer com incidentes, diferente do que idealizamos, há um fator que nos desgasta com frequência.

Quantas vezes vou para casa a programar as atividades de amanhã, para que tudo possa correr melhor para mim e para os utentes. Quantas vezes surgem situações não programadas que exigem a minha atenção no imediato. Quantas vezes deixo para amanhã o que não consigo fazer hoje. E quantas vezes tudo fica um caos por causa de um fator que me causa mais incómodo.

De facto, estou dependente. Assim como muitos colegas meus. Não consigo imaginar a minha atividade sem esta ferramenta, apesar das contingências que já me obrigaram a trabalhar sem este recurso. Tão útil e precioso é o nosso sistema informático de apoio ao médico. Mas tão desesperante e incómodo são as suas falências. E tão recorrentes.

Num mundo em que se exige a utilização de ferramentas informáticas e cada vez mais de desencoraja o recurso a outras alternativas, será que não há maneira de minimizar as recorrentes falências do sistema. É certo que nada é perfeito e pode melhorar, mas algumas situações são inadmissíveis. Períodos de horas em que desesperamos por uma resolução do problema e tudo continua na mesma. No dia seguinte, confiantes que o dia vai correr melhor e o problema persiste. Bem sei que temos que melhorar, mas aqui ficam os meus sentimentos por causa de todas estas circunstâncias.

Para o utente que nos consulta e procura solução para os seus problemas ou dúvidas: o médico está com menos paciência ou com semblante carregado porque o sistema falhou mais uma vez. Queiram desculpar estes sentimentos de desagrado e impaciência, pois o médico está assim porque não vos pode atender da melhor maneira. E sim, estamos dependentes dos sistemas informáticos. Tudo é melhor quando funcionam e tudo é melhor do que quando não existiam. Sabemos que sim. Sabemos que podemos fazer mais e trabalhar melhor. Sem esta ferramenta também é possível, mas não é a mesma coisa. Pois, a evolução foi neste sentido, da mesma forma que vocês não se imaginam sem eletricidade ou meios de transporte, também não me imagino sem sistema informático. E quero que ele funcione melhor.

Por Philippe Botas

MaisOpinião - Philippe Botas
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