Janízaros – I

Os bons prometem pouco e fazem muito; os maus prometem muito e fazem pouco

Talmude Babilónico 


Venho hoje cumprir uma promessa que há muito fiz a mim próprio.  Protelei-a tanto quanto a paciência mo permitiu, mas também esta tem um limite.

Durante longos meses, sempre que tropeçava nalguma das malvadezas informáticas e esbarrava na inoperância do helpdesk do SPSM, asseverava a mim mesmo  que iria expressar os meus agastamentos e frustrações. Contudo, fui procrastinando por mor da hierarquia das prioridades, até que chegou o dia fatídico, a gota de água. E, eis-me escrevinhando, uma vez mais, contra a desinformática  do ministério da saúde.

Pode dizer-se que começou mal o primeiro dia de regresso de férias. Logo

à entrada o biométrico deixou de reconhecer o meu dedo (uma vez mais!); seguiu-se outra surpresa: o telefone estava mudo; depois foi a PEM que borregou!; PDF disse-me que não me conhecia de lado nenhum e negou-me o acesso; emitir CIT foi um suplício, mas, apesar dos dois ou três minutos de espera lá se dignou a abrir; O Alert fez o jeito de não se negar, após, claro está, de se fazer caro e, ronceiramente, ter demorado o tempo que entendeu a arrancar; o SISQUAL (Pascoal, como foi alcunhado cá nas nossas bandas) estava inoperacional! Bom! Manda a isenção assinalar o que também houve de positivo (muito positivo mesmo!) nesse penoso dia: o servidor não falhou! Nem uma só vez nos deixou inativos, aguardando o reset. No meio da desgraça há sempre motivos para continuar a acreditar em milagres: no dia em que se conjugaram tantos fiascos informáticos manter-se firme e incólume o nosso servidor, reminiscente do Paleocénico, foi obra que merece registo para a posteridade!

Em meados de janeiro fui incluído no pequeno grupo de profissionais do meu ACES para assistir à apresentação do SClínico, organizada pela ARSLVT. Diga-se de passagem que a substituição do lastimável Novo SAM de má memória pelo SClínico foi positiva. Mas voltado à apresentação:  foi-nos dada a oportunidade de, uma vez mais, chamar a atenção  para as gravosas falhas dos sistemas informação dos cuidados de saúde e das funestas consequências para a qualidade dos serviços, da produtividade e da saúde mental dos trabalhadores. Fomos escutados com atenção. Em resposta, (ouvi com estes que os bicos do crematório hão-de abrasar) o responsável do departamento informático da ARSLVT fez dois anúncios: 1) a aquisição, para breve, de hardware e 2) a mudança de operadora da rede com as expectáveis melhorias consequentes.  O benefício da dúvida que este vosso criado atribuiu a estas boas novas esfriou na viagem de regresso ao país semiprofundo, perante o cepticismo das informáticas do ACES. E não é que as pitonisas tinham razão? 1) O prometido hardware atualizado nunca chegou. 2) quanto à mudança de operadora mais valia terem ficado quietos: foi um fiasco monumental. Se mal estávamos, pior (muito pior!) ficámos. Se houve aumento da largura de banda ainda não dei por nada, nos dois centros de saúde em que trabalho. Em contrapartida, fomos brindados com apagões telefónicos em vários centros de saúde. Meia dúzia de meses após a entrada em cena desta nova operadora a qualidade do serviço telefónico mantem-se ao nível de lixo e sujeito a réplicas dos tais apagões. E quando os utentes tentam em vão contactar telefonicamente as unidades de saúde, adivinhe o leitor quem é culpabilizado pela “tampa”! Assistentes operacionais e os telefonistas, claro está! Os verdadeiros responsáveis (a operadora e a tutela) passam incólumes. Em matéria de sistemas informáticos, a credibilidade do ministério da saúde aproxima-se vertiginosamente do zero. No momento em que escrevo estas linhas faz mais de duas semanas que no meu gabinete não tenho telefone: treze dias úteis.

Por Acácio Gouveiaaamgouveia55@gmail.com

(artigo publicado em simultâneo no MGFamiliar e no Jornal Médico)

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