Rastreio do cancro da mama: o impacto no diagnóstico e na mortalidade


Pergunta clínica: Qual a relação entre a taxa de mamografias de rastreio e a incidência de cancro da mama, a mortalidade por cancro da mama e o tamanho dos tumores diagnosticados?

Desenho do estudo: Estudo ecológico de 16 milhões de mulheres com 40 ou mais anos residentes em 547 condados constando dos registos oncológicos do SEER no ano 2000. Neste ano foram diagnosticadas 53207 mulheres com carcinoma da mama sendo estas mulheres seguidas durante um período de 10 anos. Este estudo decorreu no período de 1 de Janeiro de 2000 a 31 de Dezembro de 2010. A análise dos dados decorreu entre Abril de 2013 e Março de 2015. Objectivo primário: identificar a associação entre as taxas de rastreio de carcinoma da mama através de mamografia em diferentes condados americanos e a incidência, mortalidade e tamanho do tumor.

Resultados: Existiu uma correlação positiva entre a extensão do rastreio e a incidência de carcinoma da mama, mas não existiu correlação entre a extensão do rastreio e a mortalidade devido a carcinoma da mama. Um aumento de 10% na extensão do rastreio foi acompanhado de um aumento de 16% de diagnóstico de carcinoma da mama, mas não ocorreu mudança significativa da mortalidade devido a este carcinoma. Quando se analisa a associação entre o rastreio e o tamanho do tumor, um aumento da frequência de rastreio está associado a um aumento da incidência de pequenos tumores (≤2cm), mas não está associado a uma diminuição da incidência de tumores de maior dimensão (> 2cm). Um aumento de 10% na taxa de rastreio associa-se a um aumento de 25% na incidência de pequenos tumores (≤2cm) e a um aumento da incidência de 7% de tumores de maior dimensão (> 2cm).

Conclusão: O aumento da taxa de rastreio a nível regional tem resultado mais significativo no aumento do diagnóstico de pequenos tumores, sem existir uma diminuição na detecção de tumores de maiores dimensões. Este resultado pode explicar a ausência de diferença significativa na taxa de mortalidade devido a este carcinoma entre condados com diferentes taxas de rastreio. Estes resultados sugerem a existência de sobrediagnóstico.

Comentário: Na população americana o efeito mais frequente do aumento da taxa de mamografia é o sobrediagnóstico. Os autores do estudo não defendem a inexistência de rastreio populacional. O que estes resultados permitem inferir é que um estudo mais direccionado para populações de alto risco e seguido de vigilância em vez de tratamento imediato poderão ter melhores resultados a longo prazo. Este estudo é mais um que reforça a importância de informar as mulheres acerca do potencial efeito adverso do sobrediagnóstico induzido por este rastreio, aumentando o seu conhecimento e permitindo uma decisão mais informada sobre a realização ou não deste rastreio. 

Artigo original:JAMA Intern Med

Por Bruno Reis, UCSP Montemor-o-Velho




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