Médico Generalista

Quem é o vulgarmente chamado médico generalista?

Seja o médico de clínica geral ou o médico especialista em medicina geral e familiar ou mesmo o médico especialista em medicina interna, são normalmente os médicos vistos como generalistas pela sociedade. A história da medicina teve um percurso sempre indissociável desta imagem do médico generalista.

No início, o médico era um médico. A evolução da sociedade e da medicina determinou a emergência de especialidades. O médico com interesse em determinadas áreas concentrou-se em campos específicos, aperfeiçoando conhecimentos e técnicas em constante desenvolvimento. A evolução da medicina, como disciplina com áreas de conhecimentos, atitudes e práticas inerentes e únicos, tem sido no sentido da especialização. Sabemos hoje que cada área de especialização acompanha um ritmo de evolução galopante e abre novas oportunidades de especialização que na teoria parecem infindáveis. O que se conhece hoje é diferente de ontem e será diferente de amanhã.

Mas parece-me que o papel do médico generalista começa a ganhar novamente destaque. Não se trata de uma moda, mas sim de uma necessidade.

Na minha prática como médico especialista em medicina geral e familiar, não raras vezes, apercebo-me da fragmentação da pessoa em sistemas, doenças, condições. A pessoa é esquecida e o todo transforma-se num pedaço. Quando presto cuidados procuro sempre “ver a pessoa”. É esta perceção que me faz amar a minha especialidade.

Sim, a medicina geral e familiar é uma especialidade. Confuso? Somos especialistas na pessoa. Procuramos unir todas as peças do puzzle e perceber o todo. Este processo permite ser o fio condutor para todas as outras abordagens e permite cuidados de saúde contextualizados. De que outra forma poderia ser?

O médico de família deve ser o médico da pessoa. Não é uma tarefa fácil e exige formação contínua num programa com objetivos bem delineados. A formação de formadores deve ser uma prioridade, assim como as universidades devem rever o ensino que se centra ainda num contexto maioritariamente hospitalar. 

O todo permite ver as partes, mas as partes nem sempre mostram o todo. Ver a pessoa, o que sente e o que sabe, o que teme e o que acha, o que quer e o que não quer. Parece poesia, mas não é. É a realidade.

Na minha atividade médica agradeço ter a possibilidade de me auxiliar e referenciar os meus utentes para colegas mais diferenciados em determinadas áreas. O que me assusta é quando fracionamos a pessoa em pedaços tão pequenos ao ponto de já não conseguirmos unir as partes. E acontece tantas vezes.

Ao longo desta reflexão percebo uma coisa. Afinal a evolução da medicina foi sempre no sentido da especialização. Ao contrário do que pensava no início deste texto, não se verifica um regresso às origens, mas sim um caminho com novas aprendizagens e oportunidades. Foi necessário fragmentar para voltar a unir. Agora que sabemos mais das partes podemos reconstruir a forma como cuidamos da nossa saúde.

Por Philippe Botas



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