Menos de 4% das crianças com hipertensão têm causa secundária

 

 

Pergunta clínica: Nas crianças com diagnóstico de hipertensão arterial, qual a prevalência de uma causa secundária?

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise, utilizando como fonte de informação várias bases de dados, incluindo a MEDLINE, PubMed, Embase, Web of Science e Cochrane Library. Foram incluídos estudos observacionais de prevalência de hipertensão secundária em crianças sem comorbilidades associadas à hipertensão na altura do diagnóstico. A prevalência de hipertensão secundária em cada estudo foi extraída de modo independente por dois autores.  As estimativas de prevalência de hipertensão secundária foram agregadas numa meta-análise, usando o modelo de efeitos aleatórios.

Resultados: Foram incluídos 26 estudos, dos quais 19 prospectivos e 7 retrospectivos, abrangendo 2575 crianças com hipertensão. Ao todo foram encontrados 457 (17,7%) participantes com hipertensão secundária, registando a análise elevado grau de heterogeneidade. Os estudos realizados em cuidados de saúde primários ou escolas (n=18) encontraram menor prevalência de hipertensão secundária (3.7%; IC 95%, 1.2%-7.2%) quando comparados com os estudos (n=8) realizados com participantes referenciados para consultas de nefrologia ou de hipertensão (20.1%; IC 95%, 11.5%-30.3%). Nesta análise por subgrupo, a heterogeneidade manteve-se elevada. Os estudos apresentaram baixo a moderado risco de viés. Não foi encontrada evidência de viés de publicação.

Comentário: A prevalência de hipertensão secundária em crianças recentemente diagnosticadas com hipertensão é baixa. Neste estudo, menos de 4% das crianças em contexto de escola ou cuidados de saúde primários, com diagnóstico de novo de hipertensão, tinham uma causa secundária, em comparação com 20% daqueles referenciados a centros secundários. Este facto contradiz uma crença antiga que defendia que as crianças raramente tinham hipertensão essencial. As práticas e normas clínicas actuais defendem a necessidade de evitar a realização excessiva de testes e exames na maioria das crianças recentemente diagnosticadas com hipertensão, abordagem essa que vem ser reforçada por este estudo. Não obstante, são de referir algumas limitações desta revisão sistemática e meta-análise: a maioria dos estudos incluídos em centros secundários eram retrospectivos, a heterogeneidade encontrada foi elevada, os estudos incluídos reportavam-se a diferentes grupos etários e os dados disponíveis não permitiram calcular a prevalência de hipertensão nas crianças até 10 anos, que podem ter maior probabilidade de apresentar uma causa secundária.

Artigo original: J Pediatr

Por Luís Bicheiro, USF Portas do Arade

 

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