Obesidade: que impacto na função e qualidade de vida após artroplastia do joelho?



Pergunta clínica: Terão os doentes obesos maior risco de resultados adversos após uma artroplastia total do joelho comparativamente com os pacientes não obesos?

Enquadramento: Segundo a Organização Mundial da Saúde a obesidade é classificada tendo em conta o índice de massa corporal (kg/m2) do doente em: grau I (IMC de 30 a 34,9); grau II (IMC de 35 a 39,9) e grau III (IMC > 40). Alguns autores intitulam a obesidade grau III de “obesidade mórbida”. O aumento progressivo da incidência da obesidade e o risco acrescido de osteoartrose do joelho tornam comum a necessidade por uma artroplastia total do joelho em indivíduos obesos. A evidência disponível na literatura sobre os resultados da artroplastia total do joelho em pacientes obesos é escassa e pouco clara, com resultados conflituosos.

Desenho do estudo: Estudo retrospectivo. Avaliados 7733 pacientes submetidos a artroplastia total do joelho unilateral primária. Os doentes foram agrupados de acordo com o índice de massa corporal (IMC) como normoponderais (IMC <25kg/m2), obesos (IMC 25-39.9 kg/m2) e obesos mórbidos (IMC≥40 kg/m2). Foram avaliados os seguintes outcomes: queda do valor de hemoglobina (Hg, g/dl) no pós-operatório, duração do internamento, taxa de reinternamento aos 30 dias, estádio funcional pré-operatório e aos 2 anos de seguimento (de acordo com o Oxford Knee Score – OKS; Knee Society Knee Score – KSKS e Knee Society Function Score – KSFS), qualidade de vida (questionário Short Form-36) e sobrevida global aos 10 anos de seguimento.

Resultados: A duração média de internamento foi superior no grupo com obesidade mórbida e a taxa de reinternamento aos 30 dias foi superior neste grupo comparativamente com os obesos. Contudo, foi observado nos pacientes com obesidade mórbida um valor médio de queda da Hg inferior aos restantes grupos e uma pontuação média pós-operatória nos scores OKS e KSKS superior comparativamente com os normoponderais (tendo sido observado um aumento na pontuação funcional comparativamente aos resultados pré-operatórios em todos os grupos). A pontuação no score KSFS e no score de qualidade de vida foram sobreponíveis entre grupos, assim como a sobrevida global aos 10 anos de seguimento.

Comentário: Este estudo, contrariamente a alguns trabalhos prévios, sugere uma melhoria global funcional e da qualidade de vida em pacientes obesos e obesos mórbidos submetidos a artroplastia total do joelho unilateral. Este resultado, suportado por outros recentemente publicados, enfatiza que em indivíduos obesos não deve ser negada a possibilidade de uma artroplastia total do joelho tendo por justificação o seu peso. Este estudo poderá por conseguinte ser relevante na gestão dos cuidados em doentes obesos com osteoartrose do joelho.

Artigo original:The Bone & Joint Journal

Por Albino Martins, USF S. Lourenço




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