Pergunta clínica: Qual o papel dos probióticos nas principais doenças gastrointestinais?
Enquadramento: Nos últimos 20 anos tem aumentado o reconhecimento e interesse sobre o papel dos probióticos na saúde gastrointestinal. A indústria farmacêutica tem apostado cada vez mais nesta área, existindo inúmeros produtos. Contudo, sendo produtos de venda livre, não existe um controlo na sua aquisição. Para além disso, existe escassa evidência sobre o seu benefício. Apresentam-se as recomendações (guidelines) da American Gastroenterological Association (AGA) relativamente à utilização de probióticos nas principais doenças gastrointestinais.
Principais recomendações:
1) Doentes com Infecção por Clostridium (C.) difficile: Não está recomendado o uso de probióticos, por falta de estudos.
2) Doentes sob antibioterapia: O uso de probióticos para prevenir a infeção por C. dificille em doentes sob antibioterapia tem uma recomendação condicional, podendo ter benefício em doentes com alto risco para esta infeção. Nos doentes com problemas económicos, em que exista receio de potenciais riscos dos probióticos e com baixo risco de infeção por C. dificille, o seu uso deve ser evitado. (Recomendação condicional, com evidência de baixa qualidade).
3) Doença de Crohn e Colite Ulcerosa: Não está recomendado o uso de probióticos, por falta de estudos.
4) Inflamação da bolsa do íleon após proctocolectomia total: Recomenda-se combinação óctupla de probióticos, em vez de nenhum ou outros probióticos. Em doentes para os quais a viabilidade e o custo do uso desta combinação sejam um obstáculo, o seu uso pode ser evitado. (Recomendação condicional, com evidência de baixa qualidade).
5) Síndrome do Intestino Irritável: Não está recomendado o uso de probióticos, por falta de estudos.
6) Crianças com gastroenterite infecciosa aguda: As recomendações sugerem a não utilização de probióticos. (Recomendação condicional, com evidência de moderada qualidade).
7) Recém-nascidos pré-termo ou com baixo peso ao nascimento: Recomenda-se a utilização de combinações de algumas estirpes probióticos, para diminuir a probabilidade da ocorrência de enterocolite necrotizante, a emergência gastrointestinal mais frequente nestes doentes. (Recomendação condicional, com evidência de qualidade moderada/alta).
Comentário: Estas orientações basearam-se numa revisão sistemática da literatura disponível, sendo de salientar que a evidência da maioria destas recomendações é de baixa qualidade. A evidência de melhor qualidade encontrada: apoia o uso de probióticos em recém-nascidos pré-termo e com baixo peso ao nascimento para prevenir a enterocolite necrotizante; não recomenda o uso de probióticos nas crianças com gastroenterite infeciosa aguda; aconselha ponderação em doentes sob antibioterapia e com elevado risco de desenvolver infeção por C. dificille. São necessários estudos mais robustos para clarificar o papel dos probióticos nas doenças gastrointestinais.
Artigo original: Gastroenterology
Por Ana Filipa Fernandes, USF Vale do Sorraia