Penicilina na celulite recorrente da perna

Por Mariana Rio, USF São João do Porto

 

Pergunta clínica: qual o papel da penicilina na profilaxia da celulite recorrente da perna?

Desenho do estudo: ensaio aleatorizado duplamente cego, com doentes que tiveram 2 ou mais episódios de celulite da perna (274 participantes). Foi comparada a utilização profilática da penicilina (250 mg bid) com a utilização do placebo, ambos durante 12 meses. Foi realizado um seguimento destes doentes durante 3 anos.

Resultados: o tempo médio para nova recorrência foi de 626 dias no grupo sob profilaxia antibiótica e 532 dias no grupo controlo. Durante os primeiros 12 meses de profilaxia, houve recorrência da celulite em 22% dos doentes sujeitos a profilaxia com penicilina e em 33% dos doentes do grupo controlo (hazard ratio 0.55; IC 95%), resultando num NNT = 5. Nos restantes 2 anos de seguimento, não foram encontradas diferenças entre os grupos, assim como no número de doentes com efeitos adversos. Doentes com IMC elevado, edema dos membros inferiores e aqueles com maior número de episódios de celulite da perna respondiam pior à profilaxia.

Conclusão: em doentes com 2 ou mais episódios de celulite da perna (nos últimos 3 anos) a administração profilática de penicilina pode prevenir novas recorrências.

Comentário: a maioria dos casos de celulite pode ser tratada com antibioterapia oral, sem evolução para outras complicações e sem deixar sequelas. No entanto, pode ocorrer evolução para formação de abcesso, sépsis, celulite gangrenosa ou fasceíte necrosante. A penicilina oral demonstrou ser eficaz na diminuição das recidivas mas os doentes com maior risco de recidiva responderam pior a esta profilaxia. Saliente-se que em Portugal a penicilina, na formulação oral, não se encontra disponível.

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