Pressão arterial: o braço esquerdo é irmão do direito?

Por Mariana Rio, USF São João do Porto

Publicado no The Lancet a 30 de Janeiro de 2012, o artigo Association of a difference in systolic blood pressure between arms with vascular disease and mortality: a systemic review and meta-analysis procura perceber se a doença vascular, central ou periférica, e a mortalidade, poderão estar relacionados com diferentes valores de tensão arterial sistólica (TAs) entre braços.

Com base na premissa de que a medição da tensão arterial bilateral é uma forma pragmática de abordar doentes com maior risco de doença vascular periférica assintomática, os autores propuseram-se determinar se a diferença de TAs entre braços está associada a estenose da artéria subclávia homolateral (detectada por angiografia) no braço com TAs inferior, a doença vascular periférica, cardiovascular(CV), cerebrovascular ou com o aumento da mortalidade (de causa cardiovascular ou não).

As medições da TA em ambos os braços foram realizadas com esfigmomanómetros automáticos (nem sempre presentes nos nossos consultórios) e foram feitas de forma sequencial ou simultânea.

  • Estenose da artéria subclávia – associada a uma diferença igual ou superior a 10 mmHg, sendo a TA mais baixa do lado em que se encontra a estenose.
  • Doença coronária – sem relação com variação da TAs.
  • Doença da crossa da aorta – associada a uma diferença igual ou superior a 15mmHg
  • Doença cerebrovascular – associada a uma diferença igual ou superior a 15mmHg
  • Doença Vascular Periférica – associada a uma diferença igual ou superior a 15mmHg
  • Mortalidade – aumento da mortalidade associado a diferença entre TAs iguais ou superiores a 10 mmHg

No que concerne à doença arterial periférica, o cálculo da diferença de TAs tem grande importância clínica, baixa sensibilidade mas alta especificidade, visto que esta patologia é subestimada apenas pela pesquisa de sintomas de claudicação.

Na prática clínica, a interpretação destas diferenças poderá ser dúbia, visto que muitos factores poderão influenciar os valores obtidos no esfigmomanómetro. Até a transferência do braçal de um braço para o outro gera alguma ansiedade no doente.

Os estudos incluídos nesta revisão tiveram como amostra doentes com doença CV conhecida (em ambiente intra ou extra hospitalar), por isso, as conclusões do artigo não podem ser extrapoladas para a prática rotineira em indivíduos da população geral sem factores de risco cardiovascular, mas é de grande interesse para a avaliação de doentes em risco de doença assintomática (doentes com Diabetes Mellitus, Hipertensão arterial, Obesidade, etc.).

Artigo original: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736%2811%2961710-8/fulltext


A não perder
Menu