Pesquisa de sangue oculto nas fezes: guaiaco vs teste imunoquímico

 


 

Pergunta clínica: No rastreio do cancro do cólon e recto, serão as taxas de deteção e a adesão ao rastreio superiores com o teste imunoquímico do que com a pesquisa de sangue oculto nas fezes com guaiaco?

Enquadramento: A pesquisa de sangue oculto nas fezes pode ser realizada através de um teste com guaiaco ou através da deteção de hemoglobina humana pelo método imunoquímico. Estudos randomizados mostram que o rastreio do cancro do cólon e recto (mesmo com guaiaco) reduz a mortalidade relacionada com a doença. O teste imunoquímico é um método mais recente, específico para o sangue humano (hemoglobina), com a vantagem de não necessitar restrições alimentares prévias. Uma outra diferença entre os dois métodos reside no número de amostras de fezes que é necessário para a realização do rastreio. No rastreio com guaiaco, costumam ser necessárias duas amostras de fezes retiradas de três dejeções, no total de seis amostras, enquanto no teste imunoquímico é suficiente uma única amostra. Mas será que estas vantagens se refletem numa maior adesão ao rastreio?

Desenho do estudo: Estudo controlado não randomizado, realizado em Inglaterra, em 2014. No âmbito do programa habitual de rastreio do cancro do cólon e do recto, efectuado com guaiaco, durante um período de 6 meses, 1 em cada 28 pessoas convidadas para o rastreio recebeu o teste imunoquímico em vez do kit habitual de guaiaco. Todos os casos positivos (cut off 20 µg Hb/g fezes) foram selecionados para seguimento. As análises secundárias incluíram diferentes concentrações como cut-off, idade, sexo, história de rastreio prévia, status socioeconómico e outros fatores demográficos. O objectivo era comparar o teste com guaiaco e o teste imunoquímico quanto à taxa de deteção e quanto à adesão ao rastreio.

Resultados: A adesão ao rastreio foi significativamente superior com o teste imunoquímico (66.4% vs 59.3%; p<0.001), em ambos os sexos mas sobretudo nos homens, em todos os grupos etários e níveis socioeconómicos. Nos utentes previamente não aderentes e propostos novamente ao rastreio, as taxas de adesão ao teste imunoquímico foram o dobro comparando com o guaiaco (23.9% vs 12.5%). Nos cut-offs inferiores de hemoglobina o número de colonoscopias necessárias aumentou 3 a 4 vezes mas a deteção de neoplasias e adenomas avançados foi significativamente superior. As taxas de deteção de neoplasia/adenoma avançado foram de 0.24% e 1.29% com o imunoquímico e apenas de 0.12% and 0.35% com guaiaco.

Comentário: O teste imunoquímico, para além de mais sensível e específico na deteção de doença parece ter aumentando a adesão ao rastreio em Inglaterra. Em Portugal, segundo o relatório 2015 do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, é efetuado o rastreio populacional organizado com guaiaco na região Centro e o imunoquímico na ARS Norte e Alentejo. A legislação publicada recentemente, e que estabelece os critérios técnicos para os rastreios oncológicos de base populacional realizados no Serviço Nacional de Saúde, determina que “o teste primário é a pesquisa de sangue oculto nas fezes, pelo método imunoquímico, a realizar de 2 em 2 anos”; a implementar até ao término de 2018. No caso dos locais não abrangidos pelo rastreio organizado, poderá fazer sentido estimular a realização do teste que tem demonstrado melhores resultados na deteção da doença. Quanto à adesão, teria interesse a realização deste estudo no nosso país para avaliar a extrapolação dos resultados, sobretudo considerando que ao contrário da amostra única em Inglaterra, é variável o número de amostras utilizadas em diferentes locais na realização do imunoquímico.

Artigo original: Gut

Por Joana Penetra, USF Topázio  

 

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