Vitamina D: impacto na mortalidade


Pergunta clínica: A suplementação com vitamina D pode reduzir a mortalidade em adultos saudáveis e em adultos com doença estável?

Enquadramento: Alguns estudos sugerem que o valor da vitamina D no seu intervalo ótimo pode ser associado com menos ocorrências de neoplasias e doenças cardiovasculares e consequentemente reduzir a mortalidade. Uma revisão sistemática baseada na evidência efectuada por um grupo de trabalho da Cochrane pode contribuir para esclarecer o real benefício ou dano da suplementação com vitamina D.

Desenho do estudo: Revisão baseada na evidência com o objetivo de avaliar os efeitos da suplementação com vitamina D na prevenção da mortalidade em adultos saudáveis e adultos numa fase estável de doença. Foram incluídos 56 ensaios clínicos randomizados, publicados até Fevereiro de 2012, que compararam qualquer tipo de vitamina D, em qualquer dose, com qualquer duração e via de administração, versus, placebo ou nenhuma intervenção em participantes adultos. Os ensaios envolveram 95286 participantes com idades entre os 18 e 107 anos. A proporção média de mulheres era de 77%. A vitamina D foi administrada por uma média de 4,4 anos.

Resultados: Houve alguma evidência de que a vitamina D3 (colecalciferol) pode diminuir a mortalidade no geral e a mortalidade por cancro nos participantes predominantemente idosos que vivem de forma independente ou em instituições (NNT: 150). A vitamina D3 combinada com cálcio aumentou a nefrolitíase. Alfacalcidol e calcitriol aumentaram a hipercalcemia. Vitamina D2 (ergocalciferol), alfacalcidol e calcitriol não teve nenhum efeito estatisticamente significativo sobre a mortalidade. Não houve influência estatisticamente significativa na suplementação com Vitamina D nos casos de aumento da excreção urinária de cálcio, insuficiência renal, neoplasias, doenças cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais, distúrbios psiquiátricos ou de pele.

Conclusão: Não é possível recomendar ou desaconselhar o uso de vitamina D na redução da mortalidade.

Comentário: Os múltiplos efeitos da vitamina D são cada vez mais enfatizados, estando a hipovitaminose D implicada no desenvolvimento de múltiplas patologias, tais como doenças cardiovasculares, hipertensão, neoplasias, diabetes, demência, etc, o que demonstra um papel importante na manutenção da saúde. No entanto, o rastreio de deficiência de vitamina D só se revelou custo-efetivo em algumas populações específicas – mulheres na pós-menopausa, idosos, institucionalizados e grávidas. A nossa prática clínica deve basear-se na evidência científica, sendo que os dados disponíveis sobre os efeitos da vitamina D sobre a mortalidade mantêm-se inconclusivos. Assim, apesar da suplementação generalizada com vitamina D possa parecer inofensiva, é importante relembrar que não há consenso na vantagem desta suplementação devendo ter-se em consideração os riscos. Desta forma deve ser administrada criteriosamente a doentes com uma avaliação prévia do metabolismo fosfo-cálcico dado o perigo de ocorrência de hipercalcemia e/ou hipercalciúria. 

Artigo original:Cochrane

Por Ana Luísa Alves, UCSP da Sé

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