Quando se interrompe o rastreio de cancro: como comunicar?




Pergunta clínica: Como é que os idosos reagem à sugestão de interromper o rastreio de cancro com o aproximar do fim de vida?

Enquadramento: Os idosos, com esperança de vida reduzida são frequentemente rastreados para o cancro, apesar de isso poder acarretar algum dano, sem se traduzir em benefício clínico significativo.

Desenho do estudo: Realização de entrevistas semiestruturadas a 40 idosos (média de idade de 75,7 anos). Antes da recolha das respostas todos os participantes foram esclarecidos sobre as vantagens e desvantagens do rastreio dos cancros mais prevalentes. Foram também informados que, para alguém com uma esperança média de vida inferior a 10 anos, o rastreio pode não ser benéfico e causar dano. Os idosos foram questionados sobre quais seriam os factores que teriam em conta para interromper o rastreio regular. Foram indagados sobre como reagiriam perante um médico que sugerisse a interrupção do rastreio.

Resultados: Os idosos entrevistados referiram que aceitariam a interrupção do rastreio de cancro especialmente no contexto de uma relação terapêutica de confiança. A maioria aceita que se tenha em consideração a idade e o estado de saúde para individualizar a decisão de rastrear ou não. Quase todos os participantes se opuseram a uma declaração sobre não recomendar o rastreio de cancro em pessoas com expectativa de vida limitada, já que habitualmente julgam que os médicos não podem prever com precisão a expectativa de vida. Os idosos preferiram que os clínicos explicassem uma recomendação para parar o rastreio, incorporando o estado de saúde individual, mas dividem-se sobre se a expectativa de vida deveria ser mencionada. A formulação específica da expectativa de vida foi tida como importante. Muitos sentiram como inadequada a frase “pode não viver o suficiente para beneficiar deste teste” em comparação com a mensagem “este teste não o ajudaria a viver mais tempo”.

Conclusão: Embora as orientações recomendem referir a expectativa de vida ao informar sobre o rastreio do cancro, os idosos entrevistados não consideram esse dado relevante e preferem que o médico não refira a expectativa de vida como motivo para parar o rastreio.

Comentário: Este estudo pode, ao salientar as preferências dos idosos, contribuir para melhorar a comunicação médico-doente no âmbito da prevenção quaternária.

Artigo original: JAMA Intern Med

Por Ana Luisa Pires, USF Terras de Santa Maria  


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