Rastreio do cancro da próstata: revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos aleatorizados

Por Maria Manuel Marques, IC MGF, USF Brás Oleiro – CS Rio Tinto e S.Pedro da Cova

O cancro da próstata é o cancro não-cutâneo mais prevalente no sexo masculino e o rastreio tem sido preconizado como um meio de detecção precoce que propiciaria uma intervenção local com intenção curativa para diminuir a mortalidade específica e global. Contudo, os riscos e benefícios desta abordagem têm sido alvo de forte controvérsia.

Sabemos que os rastreios de base populacional devem ser assentes em evidência científica de elevada qualidade proveniente de revisões sistemáticas de ensaios aleatorizados e controlados que documentem um impacto positivo nos resultados orientados para o doente. Assim sendo e depois da revisão da Cochrane de 2006 que concluiu não haver evidência suficiente a favor ou contra qualquer tipo de rastreio, foi feita uma revisão sistemática e meta-análise para dar resposta à questão se, em homens sem história prévia de cancro da próstata, o rastreio através do teste PSA (prostate specific antigen) combinado ou não com o toque rectal comparativamente ao não rastreio, afecta os dois resultados mais importantes para os doentes – mortalidade específica e global.

Assim, foram incluídos seis ensaios aleatorizados e controlados com um total de 387 286 participantes e da sua análise resultou que o rastreio estava associado com uma maior probabilidade de diagnóstico (RR 1.46 95%CI 1.21-1.77 p<0.001), ou seja, um aumento relativo de 46% no ramo de rastreio comparativamente ao não rastreio. Contudo, não tem impacto significativo na mortalidade por cancro da próstata ou na mortalidade global. Uma limitação importante prende-se com o facto de não serem fornecidos dados sobre os potenciais malefícios do rastreio.

Dada a complexidade da controvérsia sobre o rastreio do cancro da próstata nomeadamente no que diz respeito às consequências eventualmente nefastas do “overdiagnosis” e do “overtreatment” e aos efeitos na qualidade de vida, aspectos que não foram adequadamente abordados nos ensaios incluídos, conclui-se que é crucial a realização de estudos com um adequado tempo de follow-up que permita avaliar o impacto do rastreio no diagnóstico precoce, na evolução natural da doença e na mortalidade.

Artigo original: Djulbegovic M, Beyth RJ, Neuberger MM et al. Screening for prostate cancer: systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials

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