Pergunta clínica: Em doentes com idade ≥ 65 anos, com hipertensão e com níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) elevados sem doença cardiovascular associada, a diminuição dos níveis de colesterol é eficaz na diminuição da morbilidade e mortalidade?
População: adultos com idade ≥ 65 anos com hipertensão e sem evidência de doença cardiovascular aterosclerótica basal
Intervenção: Medicação com pravastatina 40 mg
Comparação: Terapêutica farmacológica com pravastatina 40mg/dia versus “usual care”
Outcome: mortalidade por todas as causas, mortalidade por causa específica, enfarte do miocárdio não fatal e ocorrência de doença coronária fatal combinada.
Desenho do estudo: Ensaio clínico randomizado, controlado, aberto (open-label trial), multicêntrico. O estudo incluiu 2867 participantes, em regime ambulatório, com idades ≥ 65 anos com hipertensão e sem evidência de doença cardiovascular aterosclerótica basal. Ocorreu randomização em dois grupos (ratio 1:1): um foi medicado com pravastatina 40mg/dia e o segundo seguiu o “usual care” definido pelo médico de família e que na maioria dos casos não foi inclui medicação com estatina. O período de seguimento foi de 6 anos. O outcome primário foi a mortalidade por todas as causas. Os outcomes secundários incluíram a mortalidade por causa específica, o enfarte do miocárdio não fatal ou a ocorrência de doença coronária fatal combinada.
Resultados: O valor base da média dos níveis de colesterol LDL, anterior à intervenção, foi de 147.7 mg/dL no grupo medicado com a pravastatina e de 147.6 mg/dL no grupo submetido ao “usual care”. Ao longo dos 6 anos de follow-up, não se observou uma diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos no que se refere à mortalidade por todas as causas nos pacientes entre os entre os 65 e os 74 anos (HR pravastatina vs “usual care”: 1.08 (95% IC, 0.85-1.37; p= 0.55). Para os doentes com idade ≥ 75 anos, embora não estatistacmente significativo, observou-se um aumento do risco de mortalidade no grupo medicado com pravastatina (HR pravastatina vs usual care: 1.34 (98% IC, 0.98-1.84; p= 0.07). Relativamente à taxa de incidência de eventos coronários, não houve uma diferença estatisticamente significativa em ambas as faixas etárias.
Conclusão: Os autores concluem que, neste estudo, não se observou benefício do tratamento com pravastatina em pacientes sem evidência de doença cardiovascular aterosclerótica, com idade ≥ 65 anos, com dislipidemia moderada e hipertensão basal, o que normalmente é referido como tratamento em “prevenção primária”. As recomendações para esta terapêutica devem ser individualizadas nesta população específica.
Comentário: A inovação e a pertinência deste estudo, com um elevado número de participantes de alto risco com idades ≥ 65 anos, pode ter consequências no que respeita à prática clínica da terapêutica com estatinas, nomeadamente nesta faixa etária. Ensaios subsequentes que possam confirmar estes resultados serão bem-vindos, pois possibilitarão uma melhor compreensão dos riscos e benefícios da terapêutica com estatinas na prevenção primária em idosos, particularmente naqueles com idade ≥ 75 anos, uma vez que aí até se observou uma tendência para o aumento da mortalidade.
Artigo original: JAMA Intern Med
Por Catarina Macedo, USF Pró-Saúde