Staphylococcus aureus resistente à meticilina: nova estratégia, menos infecções




Pergunta clínica: Para pacientes hospitalizados colonizados por Staphylococcus aureus resistente à meticilina, a estratégia de descolonização após a alta, juntamente com a educação, reduz o risco de infeção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina em comparação com a educação sozinha?

População: doentes adultos que foram hospitalizados e tiveram rastreio positivo para Staphylococcus aureus resistente à meticilina nos 30 dias anteriores.
Intervenção: educação associada a uma estratégia de descolonização (com clorexidina e mupirocina).
Comparação: educação.
Outcome: infeção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina.

Enquadramento: O Staphylococcus aureus resistente à meticilina é um dos microrganismos multirresistentes mais frequentemente implicados em infeções associadas a cuidados de saúde e com taxa de infecção após alta hospitalar muito frequente.

Desenho do Estudo: Ensaio controlado randomizado (não cego).  Critérios de inclusão: doentes adultos que foram hospitalizados e tiveram rastreio positivo para Staphylococcus aureus resistente à meticilina nos 30 dias anteriores. Os investigadores aleatorizaram os pacientes para receberem educação associada a uma estratégia de descolonização de Staphylococcus aureus resistente à meticilina após a alta ou apenas educação. A educação consistia em um ficheiro informativo sobre como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina é disseminado, juntamente com recomendações para higiene pessoal, lavagem e limpeza. A estratégia de descolonização do Staphylococcus aureus resistente à meticilina consistiu em banhos no domicílio com clorexidina a 4%, bochecho com clorexidina a 0,12% e mupirocina nasal a 2% durante 5 dias, duas vezes por mês, durante 6 meses. Os pacientes foram acompanhados ao final de 1 mês, depois ao 3º, 6º, 9º e 12º meses após a alta hospitalar. O outcome primário foi infeção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina.

Resultados: A investigação incluiu 2121 doentes adultos. A adesão total à estratégia de descolonização foi alcançada por 66% dos pacientes. Doentes no grupo de educação associada descolonização tiveram menos infeções por Staphylococcus aureus resistente à meticilina do que o grupo de educação sozinha (6,3% vs 9,2%; hazard ratio [HR] 0,70; IC 95% 0,52 – 0,96; P = 0,03). Infeções da pele ou dos tecidos moles e pneumonia foram os tipos mais comuns de infeção. No geral, 85% dos pacientes que tiveram infeções por Staphylococcus aureus resistente à meticilina necessitaram de hospitalização. Seria necessário tratar 30 pacientes com a estratégia de descolonização para prevenir uma infeção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina e tratar 34 pacientes para evitar uma hospitalização associada a uma infeção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina no período de um ano após a alta. Entre os pacientes que aderiram totalmente à intervenção, os números foram ainda menores: O número necessário para tratar foi de 26 para prevenir uma infeção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina e o número necessário para tratar foi de 27 para prevenir uma hospitalização associada a Staphylococcus aureus resistente à meticilina em um ano. As infeções por qualquer causa também foram significativamente reduzidas no grupo de descolonização (19,6% vs 23,7%; HR 0,83; 0,70-0,99). Os eventos adversos associados à estratégia de descolonização ocorreram em apenas 4,2% dos participantes e foram categorizados como leves.

Conclusão: A estratégia combinada de educação e descolonização de Staphylococcus aureus resistente à meticilina levou a uma redução de 30% do risco de infecção (comparando com apenas educação).

Comentário: Este estudo levanta algumas questões importantes no que toca a estratégias para complementar a educação dos pacientes e que ajudem a obter ganhos em saúde que realmente importam. No caso, a associação a estratégia de descolonização protocolada ajudou de forma importante a reduzir infeções e hospitalizações com um número necessário para tratar importante. Do ponto de vista de quem lê fica apenas uma questão no sentido de tentar otimizar a intervenção. Faria sentido avaliar de que forma está a ser eficaz a educação para a saúde, ou seja, estão os doentes a aprender e a colocar em prática as mensagens que pretendemos passar? Se não, porquê? Otimizando também esta intervenção, quem sabe não se conseguiria, aqui e noutras áreas, melhorar ainda mais os outcomes em estudo.

Artigo original: N Engl J Med

 Por Carlos Seiça Cardoso, USF Condeixa

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