Suplementação ómega-3 associa-se a maior risco de fibrilhação auricular

 

 

Pergunta clínica: A suplementação com ómega-3 pode elevar o risco de fibrilhação auricular?

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise, com recurso às bases de dados EMBASE e MEDLINE para pesquisa de ensaios clínicos aleatorizados publicados entre 2012 e 2020. Além disso, também foram incluídos estudos originais que integraram uma meta-análise de ensaios clínicos publicada em 2019. Foram seleccionados todos os ensaios clínicos randomizados com suplementação de ómega-3 que reportassem resultados de fibrilhação auricular e com tamanho amostral de pelo menos 500 participantes e o mínimo de duração de 1 ano. A selecção de estudos, extracção de dados e avaliação do risco de viés foram efectuados de forma independente por dois revisores e as divergências resolvidas por consenso.

Resultados: Foram incluídos 7 ensaios clínicos, com um total de 81,210 participantes e mediana de tempo de seguimento de 5 anos. 72,6% dos ensaios utilizaram doses inferiores a 1g/dia de ómega-3 e os restantes usaram doses superiores. A idade média dos participantes foi de 65 anos e 39% eram mulheres. 4 dos 7 estudos incluídos, correspondendo a cerca de metade dos pacientes, usaram o marcador “fibrilhação auricular de novo”. Nos pacientes suplementados com ómega-3, os autores encontraram um risco aumentado de fibrilhação auricular (hazard ratio [HR] 1.25; IC [intervalo de confiança] 95% 1.07 – 1.46). A heterogeneidade entre os estudos foi moderada (I2=55%), mas foi resolvida com análise por subgrupos de dose. Os pacientes que receberam doses superiores a 1g registaram maior risco de ter evento de fibrilhação auricular (HR 1.49; 1.04 – 2.15)  em relação aos que receberam doses inferiores (HR 1.11; 1.06 – 1.15).

Comentário: Muito se fala sobre suplementos de ómega-3 e, certamente, já fomos questionados pelos nossos utentes sobre o seu uso. Deparamo-nos diariamente com publicidade a exaltar os benefícios desta “gordura boa”.  Os estudos que realmente encontraram benefícios em termos de eventos isquémicos foram os estudos de doses mais altas, como REDUCE-IT, contudo, a presente revisão sistemática e meta-análise revela que a suplementação com ómega-3 se associou a risco aumentado de fibrilhação auricular, particularmente para doses superiores, com um NNH (number needed to harm) de 200. Desta forma, pacientes que usam altas doses de ómega-3 devem ser informados do possível risco de fibrilhação auricular e acompanhados de perto.

Artigo original: Circulation

Por Daniela Macedo Gomes, USF Serra da Lousã

 

 

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