Terapia compressiva previne celulite recorrente do membro inferior

 

 

Pergunta Clínica: A terapia compressiva reduz a probabilidade de celulite recorrente em pessoas com edema crónico do membro inferior?

Enquadramento: O edema crónico aumenta o risco de celulite, com consequente necessidade de antibioterapia. A terapia compressiva tem sido recomendada na prevenção da celulite, no entanto, a sua eficácia ainda tem evidência limitada.

População: pacientes com edema do membro inferior e celulite recorrente
Intervenção: meias de compressão pelo joelho + aconselhamento
Comparação: aconselhamento apenas
Outcome: recorrência de celulite

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado controlado (sem ocultação). Os pacientes com edema do membro inferior e celulite recorrente foram emparelhados 1:1 em grupo controlo (aconselhamento apenas) e grupo compressão (meias de compressão pelo joelho + aconselhamento). O seguimento ocorreu a cada 6 meses por até 3 anos ou até ocorrerem 45 episódios de celulite. O marcador (outcome) primário foi a recorrência de celulite e os marcadores (outcomes) secundários foram o internamento hospitalar relacionado com a celulite e a qualidade de vida. Foram incluídos doentes com edema crónico do membro inferior (≥ 3 meses de evolução), com 2 ou mais episódios de celulite da perna ipsilateral nos 2 anos anteriores ao início do estudo. Os critérios de exclusão englobaram doentes instáveis ou em cuidados paliativos, com úlcera crónica sob tratamento prolongado ou já sob compressão.

Resultados: Foram incluídos 84 doentes (41 no grupo compressão e 43 no grupo controlo). Os grupos foram equilibrados no início do estudo, com média de idade de 64 anos, 49% mulheres e 63% com edema ≥5 anos. O ensaio foi interrompido precocemente após uma avaliação preliminar ter revelado menor incidência de episódios de celulite no grupo compressão (15% vs. 40%; p=0,002; NNT=4). Aquando desta avaliação, a mediana de seguimento era de 209 dias no grupo compressão e de 77 dias no grupo controlo. A hospitalização por celulite foi menos frequente no grupo de compressão (3 vs. 6). A maioria dos indicadores relacionados com a qualidade de vida não diferiu entre grupos.

Comentário: Apesar deste ensaio clínico ter número reduzido de participantes, ter sido efetuado apenas num centro e não ter ocultação, apresenta resultados promissores. O número necessário tratar é reduzido. Por outro lado, a baixa taxa de hospitalização por celulite reassegura em relação à segurança deste procedimento. Será positivo ver estes resultados confirmados por ensaios clínicos adicionais, noutros ambientes e condições para fundamentar a utilização generalizada da terapia compressiva.

Artigo original: NEJM

Por Sofia do Vale Pereira, USF Trevim Sol

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