Uso de corticóides inalados em crianças com pieira recorrente

Por Pedro Azevedo, IFE MGF – USF Fânzeres

O uso de corticóides em doentes com exacerbações frequentes de asma (pelo menos 4 episódios de pieira no ano anterior e 1 exacerbação com necessidade de corticoides sistémicos) e poucos sintomas nos períodos de remissão (sem o uso de albuterol mais de 3 vezes por semana e menos de 2 despertares noturnos devido a sintomas) pode ser um problema, por comprometer o crescimento dessas crianças assim como ser de difícil adesão. Um estudo randomizado duplamente cego usou 4 grupos destas crianças com idades entre os 12 e 53 meses (um grupo com inalações de budesonido 0,5 mg uma vez por dia, outro que tomava 1mg duas vezes por dia durante as exacerbações e dois grupos que realizaram medicação placebo, respetivamente nas mesmas frequências). Um total de 213 crianças completaram o estudo (sendo as desistências mais comuns no grupo da medicação contínua (12 vs 3). A severidade da asma, sintomas do trato respiratório e número de exacerbações (cerca de 1 por ano em ambos os grupos) não tiveram diferenças significativas. A grande diferença foi que o grupo de medicação intermitente tomou em média menos 104g de esteroide por ano.


Lembremos que, embora o estudo pareça estar bem estruturado, o mesmo não é transponível a todas as crianças com asma, mas apenas àquelas com exacerbações frequentes e com poucos sintomas entre as mesmas. Com a melhoria dos cuidados aos doentes asmáticos é natural que as guidelindes de tratamento vão particularizando determinados grupos de doentes, como é o caso. Portugal apresenta-se entre os melhores países da Europa com percentagens de doentes com asma controlada (57%), número semelhante ao apresentado pela Finlândia e França. Um orgulho, sem dúvida, para Portugal mas ainda com margem para novos estudos e melhoradas intervenções. Vale a pena pensar nisto.


Artigo original: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1104647

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