Cessação tabágica: associação vareniclina e bupropiona é mais eficaz?

 

Pergunta clínica: Na cessação tabágica, a terapêutica com vareniclina associada à bupropiona é mais eficaz do que a vareniclina isoladamente?

Desenho do estudo: Estudo multicêntrico, aleatorizado, cego e controlado, com 12 semanas de tratamento, seguido de um período de 40 semanas de acompanhamento, perfazendo um total de 52 semanas. Amostra com 506 adultos (com idade igual ou superior a 18 anos), que referiam fumar no mínimo 10 cigarros por dia, há pelo menos 6 meses; sem nenhuma comorbilidade associada. Os participantes foram divididos em 2 grupos: o grupo que realizou tratamento de combinação (vareniclina + bupropiona) e o grupo que realizou monoterapia (vareniclina + placebo). O outcome principal foi a taxa de abstinência à 12ª semana; os outcomes secundários foram as taxas de abstinência tabágica às semanas 26 e 52.

Resultados: Apenas 62% dos participantes (n=315) concluíram o estudo, sendo que os restantes indivíduos foram considerados como tendo recaído. A terapêutica de associação vareniclina + bupropiona esteve associada a maior taxa de abstinência tabágica às 12 e às 26 semanas, com diferença estatisticamente significativa em relação à monoterapia com vareniclina. No entanto, às 52 semanas de tratamento, essa diferença já não tinha significância estatística. Não houve diferenças entre os 2 grupos no que respeita ao aumento de peso, mas a ocorrência de efeitos adversos (sobretudo ansiedade e depressão) foi significativamente superior no grupo que recebeu terapêutica de combinação. A utilização de vareniclina associada à bupropiona foi significativamente mais eficaz para atingir a abstinência tabágica prolongada às 12, 26 e 52 semanas em “fumadores pesados” (indivíduos que consumiam pelo menos 20 cigarros por dia).

Comentário: A vareniclina e a bupropiona são fármacos com indicação para a cessação tabágica, com boa tolerância por parte dos doentes. Este artigo vem demonstrar que o uso combinado destas 2 moléculas poderá estar aconselhado em fumadores com carga tabágica “pesada” (pelo menos 1 maço/dia). Deverá ser sempre uma decisão partilhada entre médico e utente, que deve estar informado acerca dos potenciais efeitos indesejáveis destes fármacos. Não deve também ser menosprezado o preço desta terapêutica combinada, o que poderá ser um fator limitante ao seu uso, face ao atual panorama económico.

Artigo original

Por Hugo Paiva, UCSP Mira 

 

 

 

Prescrição Racional
Menu