Ventilação não invasiva associada à oxigenoterapia, no domicílio, em doentes com DPOC



Pergunta clínica: Em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crónica e hipercapnia persistente, a manutenção da ventilação não invasiva no domicílio, além da oxigenoterapia, contribui para reduzir o risco de novo internamento e o risco de morte?  

População: Doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica e hipercapnia persistente.

Intervenção: Ventilação não invasiva no domicílio + oxigenoterapia.

Comparação: Oxigenoterapia isolada.

Outcome: Tempo até novo internamento hospitalar ou morte.

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado multicêntrico realizado no Reino Unido. Foram recrutados doentes admitidos em 13 centros hospitalares com exacerbações agudas de doença pulmonar obstrutiva crónica entre 2010 e 2015 que apresentassem: hipercapnia persistente, hipoxemia e pH arterial em ar ambiente superior a 7,30. Os participantes foram aleatorizados em dois grupos: um recebeu tratamento domiciliário de oxigenoterapia associada a ventilação não invasiva (grupo intervenção) e o outro oxigenoterapia isolada (grupo controlo). O outcome primário foi determinar o tempo para nova readmissão hospitalar ou morte. Os participantes foram avaliados quanto à frequência das exacerbações e à qualidade de vida às 6 semanas, aos 3, 6 e 12 meses. Foram incluídos no estudo 116 pacientes, destes 57 foram incluídos no grupo intervenção e 59 no grupo controlo. Os grupos eram equilibrados nas variáveis demográficas.

Resultados: O tempo médio para a readmissão hospitalar ou morte para o grupo intervenção foi de 4.3 meses (1.3-13.8 meses) comparada com 1.4 meses (0.5-3.9 meses) no grupo  controlo. O risco de admissão hospitalar ou morte a 12 meses foi de 63.4% para o grupo  intervenção e 80.4% para o grupo controlo. Será necessário tratar 6 destes pacientes com ventilação não invasiva no domicílio associada à oxigenoterapia para prevenir uma readmissão hospitalar. A mortalidade aos 12 meses não foi significativamente diferente entre os dois grupos. A qualidade de vida foi superior no grupo  intervenção nas avaliações às 6 semanas e aos 3 meses, não havendo diferença estatisticamente significativa nas restantes avaliações.

Conclusão: Verificou-se uma diminuição de cerca de 20% nas hospitalizações a 12 meses em doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica com hipercapnia persistente tratados com oxigenoterapia associada a ventilação não invasiva , quando comparado com doentes tratados com oxigenoterapia isolada. Contudo a mortalidade a 12 meses foi semelhante nos dois grupos. Foi registada uma melhoria da qualidade de vida do grupo com oxigenoterapia associada à ventilação não invasiva em dois dos quatro momentos de avaliação.

Comentário: A melhoria da qualidade de vida deve ser uma das prioridades na prestação de cuidados aos nossos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica. Este estudo mostra que apesar de não reduzir a mortalidade a longo prazo, o tratamento dos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica e hipercapnia persistente com ventilação não invasiva no domicílio associada à oxigenoterapia traz vantagens importantes, pois reduz a necessidade de novos internamentos e melhora a qualidade de vida. 

Artigo original: JAMA

Por Isabel Rocha, UCSP de Penacova



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