HIV: o risco de transmissão sexual é ínfimo no caso de doentes tratados ou com método de barreira




Pergunta clínica: Em parceiros sexuais serodiscordantes, qual é o risco de transmissão de HIV quando o parceiro infetado se encontra sob tratamento antirretroviral (com ou sem carga viral inferior a 200 cópias/mL) ou quando é usado o método de barreira durante a relação?

Enquadramento: No Canadá, estima-se que 82% das pessoas com HIV foram infetadas por via sexual. Segundo a lei canadiana, um cidadão seropositivo pode ser processado se se envolver sexualmente com determinado parceiro e não revelar a sua “condição” de seropositividade. Este trabalho de revisão surgiu então com o objetivo de dar resposta a questões levantadas pela Agência de Saúde Pública do Canadá de forma a compreender qual o risco “real” de transmissão de HIV por via sexual em parceiros serodiscordantes tendo em conta a realização de terapêutica antirretroviral e o uso de métodos barreira durante as relações sexuais.

Desenho do estudo: Revisão sistemática com meta-análise. Foram incluídos 11 estudos, 1 ensaio clínico randomizado e 10 estudos observacionais. Foi calculada a incidência de transmissão de HIV por 100 pessoas-ano com intervalos de confiança de 95%. Os resultados obtidos foram traduzidos para uma classificação de risco negligenciável, baixo, moderado ou alto. De uma forma geral a qualidade da evidência foi classificada como moderada-alta.

Resultados: Concluiu-se que o risco de transmissão de HIV por via sexual é negligenciável quando o parceiro sexual seropositivo está a fazer terapêutica antirretroviral e apresenta carga viral suprimida (risco global de 0.00 por 100 pessoas-ano [95% IC 0.00-0.28]; apesar de não ter sido possível obter evidência direta, estimou-se que este risco é sobreponível em situações em que o parceiro sexual seropositivo está a fazer terapêutica antirretroviral com carga viral suprimida e um dos parceiros utiliza método barreira. Por outro lado, o risco de transmissão é baixo quando o parceiro sexual seropositivo está a fazer terapêutica antirretroviral (independentemente da carga viral) – risco global de 0.22 por 100 pessoas-ano [95% IC 0.14-0.33] e quando um dos parceiros utiliza método barreira nas relações sexuais (sem uso de terapêutica antirretroviral) – risco global de 1.14 por 100 pessoas-ano [95% IC 0.56-2.04]. Apesar de nenhum estudo ter permitido avaliar diretamente o risco de transmissão quando o parceiro sexual seropositivo está a fazer terapêutica antirretroviral (independentemente da carga viral) e um dos parceiros utiliza método contracetivo de barreira nas relações sexuais, estimou-se um baixo risco – risco global de 0.003 [95% IC 0.00-0.03] a 0.11 ano [95% IC 0.02-0.73] por 100 pessoas-ano.

Comentário: O risco de transmissão de HIV por via sexual é praticamente nulo em doentes a realizar terapêutica antirretroviral e com níveis reduzidos de carga viral. Estes resultados traduzem a evolução da medicina moderna e o sucesso da terapêutica antirretroviral atualmente disponível para estes doentes. Não obstante estes resultados, mantém-se com pertinente o aconselhamento para a população, nomeadamente juvenil, do uso do preservativo na prevenção de infeções sexualmente transmissíveis.

Artigo original: CMAJ

Por Ana Pinho, UCSP Chaves IB 



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