Vitamina D não reduz risco de fractura em adultos

 

 

Pergunta clínica: A suplementação com vitamina D diminui o risco de fractura em adultos a partir da 5ª década de vida?

População:  homens com ≥50 anos e mulheres com ≥55 anos
Intervenção: vitamina D 2000 UI por dia
Comparação: placebo
Outcome (primário): total de fracturas e ocorrência de fracturas não-vertebrais e da anca

Desenho do estudo: Estudo aleatorizado controlado por placebo. Foram aleatorizados 25,871 indivíduos – homens com idade igual ou superior a 50 anos e mulheres com 55 ou mais anos – para receber vitamina D 2000 UI por dia ou placebo. O risco individual de fractura e os níveis de vitamina D não foram factores de selecção dos participantes. Foram excluídos indivíduos com antecedentes de neoplasia, doença cardiovascular ou hipercalcemia. As fraturas ocorridas durante o seguimento foram avaliadas com base no relato do participante, através de questionário realizado anualmente e confirmado pela revisão dos registos clínicos. O marcador (outcome) primário foi o número total de fracturas e a ocorrência de fracturas não-vertebrais e da anca.

Resultados: A idade média dos participantes foi de 57 anos, sendo 51% mulheres, das quais 20% de raça negra. Cerca de 42% dos participantes de cada grupo já faziam previamente suplementação com vitamina D, tendo concordado limitar a 800 UI por dia durante o período de estudo.  Aproximadamente 25% dos participantes apresentavam um nível basal de vitamina D inferior a 24ng/mL e 1,5% inferior a 12ng/mL. O nível médio basal de vitamina D foi de 30,7 ng/mL e não foram observadas diferenças nas taxas de fratura em diferentes níveis de vitamina D, incluindo nos participantes com níveis inferiores a 24 ng/mL (hazard ratio [HR] 1,94; IC 95% 0,8-1,36) e inferiores a 12ng/mL (HR 1.03; IC 95% 0,36-1,95). Ocorreram no total 1991 fraturas em 1551 doentes, não tendo sido encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos no que se refere ao total de fracturas, fracturas não-vertebrais ou fracturas da anca. Também não se encontraram diferenças entre os grupos no que respeita a cálculos renais, episódios de hipercalcemia ou outros eventos adversos.

Comentário: Em Portugal, a venda de suplementos contendo vitamina D tem vindo a aumentar, muito devido aos media, que alertam para o seu défice na população portuguesa e a sua associação a variadíssimas doenças e maus prognósticos. Contudo, existe controvérsia na comunidade científica sobre os verdadeiros benefícios desta suplementação. Neste estudo, a suplementação não teve efeitos significativos, mesmo nas pessoas com níveis basais baixos de vitamina D. Assim sendo, não parece haver evidência forte que sugira a sua suplementação, pelo que se deve  apostar mais nas medidas a nível de controlo dos fatores de risco cardiovascular, alimentação saudável e exercício físico, já comprovadas em termos de eficácia. Para finalizar, e segundo as recomendações da Choosing Wisely Portugal, não devemos fazer rastreio populacional para o défice de vitamina em bebés, crianças e adultos saudáveis, sendo apenas apropriado quando existir o objetivo de instituir uma terapia interventiva em situações específicas.

 

 

Artigo original: NEJM

Por Carolina Pereira Caetano, USF Tornada

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