Vitamina D: protege das infeções das vias aéreas superiores?

Por Daniela Cruz Pinto, USF Maxisaúde

 

Pergunta Clínica: Qual o efeito da suplementação com vitamina D3 na incidência e gravidade das infeções das vias aéreas superiores (IVAS) em adultos saudáveis?

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado e controlado, com dupla-ocultação. 322 Adultos saudáveis foram distribuídos aleatoriamente por 2 grupos: ao grupo experimental (n=161) foi administrada vitamina D3 oral numa dose inicial de 200 000 UI, 200 000 UI após 1 mês, seguindo-se a administração mensal de 100 000 UI, durante um total de 18 meses; ao grupo controlo (n=161) foi administrado placebo num regime posológico idêntico. Durante o follow-up determinou-se os níveis séricos de 25-hidroxivitamina D [25(OH)D] iniciais e após 2, 6 e 12 meses de estudo e foi aplicado um questionário (Wisconsin Upper Respiratory Symptom Survey 24) para averiguar a existência e gravidade de episódios de IVAS. O número de episódios de IVAS foi o end point primário. A duração, gravidade e número de dias de trabalho perdidos devido a esses episódios foram end points secundários.    

Resultados: A média dos níveis iniciais de 25(OH)D foi de 29ng/ml. A suplementação com vitamina D3 resultou num aumento dos níveis de 25(OH)D que se mantiveram acima dos 49ng/ml durante todo o estudo.  Nos 18 meses foram reportados 593 episódios de IVAS no grupo experimental e 611 no grupo controlo. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas no número de IVAS por participante (média de 3,7 por pessoa no grupo experimental e 3,8 no grupo controlo; RR 0,97; IC 95%), na duração dos sintomas por episódio (média de 12 dias nos 2 grupos; RR 0,95; IC 95%), na sua gravidade, nem no número de dias de trabalho perdidos devido a episódios de IVAS (média de 0,76 dias nos 2 grupos; RR 0,96; IC 95%). Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas em nenhum dos end points quando se reanalisaram os dados, considerando níveis iniciais de 25(OH)D inferiores a 20ng/ml.

Conclusão: A suplementação mensal com 100 000 UI de vitamina D3 em adultos saudáveis não reduz a incidência nem gravidade das IVAS. 

 

Comentário: A suplementação de vitamina D3 na dose de 700-800 UI diária, mostrou-se segura e eficaz na população com osteoporose e em risco de fraturas, sendo atualmente recomendada por orientações e consensos nacionais e internacionais. Já o potencial papel da vitamina D nas doenças infeciosas e o impacto da sua suplementação como medida preventiva contra as mesmas, nomeadamente contra as IVAS, é contraditório. Será a suplementação com vitamina D benéfica apenas em populações com deficiência grave de vitamina D3 (níveis de 25(OH)D muito baixos, inferiores a 10ng/ml)? Será prudente avaliar-se estes níveis em doentes com IVAS periódicas? E qual a posologia eficaz e segura para a suplementação? É clara a necessidade de mais estudos para se perceber a eficiência desta potencial medida preventiva.

 

Artigo original

Prescrição Racional
Menu