O volume também conta







Ontem estive numa festa de aniversário, e os decibéis atingidos pelo conjunto da voz humana perturbaram-me. E imaginei eu, se me perturbou a mim, um ser jovem e sem patologia, qual seria o impacto causado num ser ainda mais jovem (criança) ou até mesmo num idoso.

A tendência natural de quem se quer fazer ouvir, passa, geralmente, pela elevação do volume da voz. No entanto, nem sempre este é o método mais adequado para chegarmos ao indivíduo com quem queremos comunicar. Com este tipo de ação podemos mesmo afastar de vez a pessoa com quem queríamos manter um diálogo.

Um exemplo muito pertinente são as pessoas idosas e com presbiacusia (défice de audição que surge com o envelhecimento). Neste grupo de indivíduos, a perda auditiva é mais acentuada nos sons agudos. Logo quando falamos mais alto, temos tendência a subir também a tonalidade, usando sons mais agudos, o que dificulta duas vezes a perceção por parte do idoso com quem queremos comunicar. Por isto, quando queremos comunicar com um indivíduo com presbiacusia devemos, ao invés de elevar do volume da voz, utilizar um som mais grave. 

Outro grupo muito sensível ao volume da voz são as crianças.

Estes encontram-se numa fase de aprendizagem, e crescimento, tanto exterior como interior. E o seu crescimento interior passa também pelo desenvolvimento da segurança e autoconfiança. Sempre que aumentamos o volume da voz para comunicar com alguém, causamos de certa forma um impacto, mal-estar que numa criança pode significar criar uma insegurança, forma usada para cativar a atenção. No entanto, se este for um comportamento repetitivo, a insegurança que a criança vivencia vai-se tornando parte integrante do seu mundo, e esta cresce a viver com medo. Ajudamos assim a criar uma criança insegura.

Sendo médica de família, a comunicação com o outro faz parte do meu dia-a-dia de trabalho, tornando importante esta reflexão: elevar o volume da voz nem sempre é a melhor forma para transmitir a informação a quem está diante de nós, e a quem queremos transmitir a mensagem mais correta.

Por Ana Carolina Martins

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