A precisão diagnóstica da intuição dos Médicos de Família

 

 

Contexto: Os “gut feelings” – intuições ou pressentimentos – podem ser usados pelos médicos, particularmente quando confrontados com a incerteza diagnóstica.

Pergunta clínica: Com que frequência os “gut feelings” são usados pelos médicos de família e qual a sua precisão?

Desenho do estudo: Estudo observacional, tratando-se de um coorte prospectivo, que incluiu 155 médicos de família espanhóis, com o objetivo de avaliar a prevalência de “gut feelings” e qual o seu valor preditivo para o diagnóstico de cancro ou outras doenças graves. Durante, pelo menos, um dia de trabalho, os clínicos completaram o Gut Feeling Questionnaire (GFQ), relativamente a todos os pacientes adultos que trouxessem pelo menos um motivo novo de consulta. Os investigadores seguiram cada paciente aos 2 e 6 meses após esta consulta, revendo os seus registos clínicos dos cuidados de saúde primários e hospitalares e procurando diagnósticos de novo de cancro ou outras doenças graves.

Resultados: Os 155 médicos de família participantes no estudo apresentavam uma idade média de 46 anos, sendo 70.3% mulheres e tendo preenchido o questionário relativo a um total de 1487 pacientes. Os médicos reportaram ter sentido algum tipo de pressentimento em 97% das consultas, a maioria – 75% – correspondendo a um pressentimento positivo, que os deixava confiantes em relação à abordagem do paciente, mesmo que na ausência de um diagnóstico. Uma sensação de alarme ocorreu em 22% das consultas, na presença da qual mais frequentemente procederam a investigação diagnóstica adicional. Em 2 meses, 4.6% dos pacientes tiveram um diagnóstico de cancro ou outra doença grave. A sensação de alarme dos médicos de família previu correctamente doença em 1 de cada 8 pacientes (valor preditivo positivo de 12%; IC 95%: 9-16%), mas a ausência de pressentimento negativo estava correcta em 98% dos casos (valor preditivo negativo de 98%; IC 95%: 86-98%).

Comentário: Este artigo mostra que os médicos de família utilizam a sua intuição em quase todas as consultas em que os pacientes se apresentam com queixas de novo. Este estudo apresenta limitações inerentes ao seu carácter observacional, não sendo possível generalizar os resultados para outras populações ou contextos. Não obstante, estudos anteriores já haviam demonstrado que os “gut feelings” são utilizados pelos médicos de família na abordagem diagnóstica.

Artigo original: J Gen Intern Med.

Por Cláudia Batista Rosa (Centro de Saúde do Caniço) e Sofia Baptista

 

 

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