Antidepressivos e risco de suicídio


Pergunta clínica: Alguns antidepressivos são mais seguros do que outros em relação ao risco de suicídio?

Enquadramento: As taxas de suicídio e de automutilação estão muito aumentadas em pessoas com depressão e a redução destes riscos é muito relevante quando tratamos e acompanhamos estes doentes.

Desenho do estudo: Estudo de coorte (retrospetivo), observacional, realizado no Reino Unido. Os doentes foram selecionados através de um grande banco de dados dos cuidados de saúde primários: o QResearch. Esta base de dados é derivada dos registos de saúde anónimos de mais de 12 milhões de doentes de mais de 600 unidades de cuidados de saúde primários em todo o Reino Unido. Foram selecionados 238963 doentes, com idade entre os 20 e os 64 anos, com primeiro registo de diagnóstico de depressão entre 1 de janeiro de 2000 a 31 de julho de 2011 e seguidos até 1 de agosto de 2012.

Resultados: Durante o follow-up, 87,7% (n=209476) dos doentes foram medicados com antidepressivos e a maioria destes (71,3%) foram tratados com inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). A mediana da duração do tratamento foi de 221 dias. Durante os primeiros 5 anos de follow-up, ocorreram 198 casos de suicídio e 5243 casos de tentativa de suicídio ou automutilação. A taxa de suicídio foi mais elevada nos primeiros 28 dias de tratamento. O risco absoluto de tentativa de suicídio ou automutilação durante mais de um ano variou entre 0,02% com a amitriptilina e 0,19% com a mirtazapina. Não houve diferença significativa na taxa de tentativa de suicídio ou automutilação entre doentes medicados com com antidepressivos tricíclicos comparativamente com ISRS. Comparativamente com o citalopram a taxa de suicídio esteve aumentada com o uso de mirtazapina e venlafaxina.

Comentário: As taxas de suicídio e de tentativa de suicídio ou automutilação são semelhantes durante os períodos de tratamento com inibidores seletivos da recaptação da serotonina e com antidepressivos tricíclicos. A mirtazapina, venlafaxina e trazodona estão associados às maiores taxas de suicídio e de tentativa de suicídio ou automutilação, mas o número de eventos de suicídio é pequeno, o que leva a estimativas imprecisas. As elevadas taxas nos primeiros 28 dias após o início e o término do tratamento com antidepressivos enfatiza a necessidade de monitorização cuidadosa dos doentes durante estes períodos. 

Artigo original:BMJ

Por Joana Canais, USF Serra da Lousã




Prescrição Racional
Menu