AINES tópicos devem ser a primeira linha na dor muscular

 

 

Pergunta clínica: Que tratamentos apresentam maior benefício nas dores musculoesqueléticas agudas não lombares em adultos?

Tipo de artigo: Orientações clínicas (guidelines) do American College of Physicians e da American Academy of Family Physicians.

Desenho do estudo: Orientações  clínicas baseadas em revisão sistemática da evidência. Foram selecionados artigos que avaliassem o tratamento da dor musculoesquelética aguda (duração < 4 semanas) em adultos. Foram consideradas: (i) uma meta-análise em rede que comparou a eficácia e a segurança de medidas farmacológicas e não farmacológicas no tratamento da dor musculoesquelética aguda não lombar; e (ii) outra sobre os preditores do uso prolongado de opióides. Os marcadores (outcomes) foram: dor ( 2 horas, 1.º e 7.º dia); capacidade funcional; alívio sintomático; grau de satisfação com tratamento instituído; efeitos adversos (gastrointestinais, dermatológicos e neurológicos). A evidência foi classificada de acordo com a GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation).

Resultados: Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) tópicos são recomendados como terapêutica de primeira linha, já que demonstraram ser eficazes no alívio sintomático e melhoria funcional, registando elevada satisfação por parte dos pacientes  a um baixo custo e baixo risco de efeitos adversos (recomendação forte; evidência moderada). O tratamento com AINEs orais está também associado a uma melhoria dos mesmos marcadores, todavia, dada a incidência superior de efeitos adversos, estas entidades atribuem uma recomendação condicional – evidência moderada. A acupressão e a estimulação elétrica nervosa transcutânea também poderão ser consideradas, embora com um menor grau de evidência. Atendendo aos efeitos adversos associados à sua utilização, estas entidades não recomendam o uso de opióides, incluindo o tramadol (recomendação condicional; evidência baixa).

Comentário:  As dores musculoesqueléticas agudas são uma entidade bastante prevalente, pelo que a sua orientação clínica, com base na melhor evidência disponível, é fulcral. Os autores utilizaram uma meta-análise em rede para comparar opções não directamente estudadas entre si, o que deve ser interpretado com precaução. É reconhecida ainda a grande heterogeneidade na apresentação clínica destes quadros, pelo que o AINE tópico poderá não ser sempre a primeira linha a considerar. O clínico deverá ainda ter em conta fatores como a idade, história de hipertensão arterial, hemorragia gastrointestinal, dispepsia, disfunção renal, resposta prévia a terapêuticas instituídas, intensidade da dor, condições socioeconómicas e ainda as preferências do doente, de forma a melhor adequar a sua abordagem. A abordagem holística do doente e o senso/juízo clínico do médico predominarão sempre sobre qualquer guideline.

Artigo original: Ann Intern Med

Por Filipe Cabral, USF Marco

 

 

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