Antibióticos de largo espectro nas infeções respiratórias agudas colocados em causa




Pergunta clínica: Em crianças com infeção respiratória aguda, os antibióticos de largo espectro são mais eficazes e seguros do que os antibióticos de espectro curto?

Enquadramento: As infeções respiratórias agudas são responsáveis pela maioria da exposição a antibióticos na infância e a prescrição dos de largo espectro tem vindo a aumentar. Desconhecem-se os benefícios destes antibióticos comparativamente com uma terapêutica de curto espectro.

Desenho do estudo: Estudo de coorte retrospetiva com outcomes clínicos e de coorte prospetiva com outcomes centrados no doente, de crianças entre os 6 meses e 12 anos de idade com infeção respiratória aguda (otite média, amigdalofaringite estreptocócica grupo A e sinusite) e prescrição antibiótica entre Janeiro de 2015 e Abril de 2016. O estudo foi financiado pelo governo e realizado numa rede de pediatras dos cuidados de saúde primários na Pensilvânia e Nova Jérsia (Estados Unidos da América). Os doentes foram considerados como expostos caso tenham recebido um antibiótico de largo espectro (amoxicilina+ácido clavulânico, cefalosporinas ou macrólidos) e como não expostos se tivessem sido medicados com um antibiótico de espectro curto (penicilina ou amoxicilina). Os autores tinham como objectivo comparar a utilização de antibióticos de largo e curto espectro nas infeções respiratórias agudas em crianças avaliando o insucesso da terapêutica, os efeitos adversos 14 dias após o diagnóstico e a qualidade de vida.

Resultados: Das 30159 crianças na coorte retrospetiva, 4307 (14%) receberam antibióticos de largo espectro. O uso destes fármacos não foi associado de forma significativa a menor falência terapêutica (3.4% vs 3.1%) ou a diferenças na qualidade de vida comparativamente com os antibióticos de espectro curto. Os antibióticos de largo espectro associaram-se a um risco superior de efeitos adversos registados pelos médicos (3.7% vs 2.7%) e reportados pelos pais/crianças (35.6% vs 25.1%). Os efeitos adversos incluíram diarreia, candidíase, rash, reações alérgicas inespecíficas e vómitos.

Comentário: A resistência aos antibióticos é um dos problemas de saúde pública mais relevantes e que tem vindo a agravar-se devido à utilização inadequada dos mesmos. São importantes estudos como este que demonstrem que a utilização de antibióticos de largo espectro não acrescenta benefício terapêutico, podendo mesmo estar associados a mais efeitos adversos.

Artigo original: JAMA

Por Joana Penetra, USF Topázio 


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