An Ugly Truth

 

Livro: “An Ugly Truth: Inside Facebook’s Battle for Domination” por Sheera Frenkel e Cecilia Kang

O livro “An Ugly Truth: Inside Facebook’s Battle for Domination” é uma excelente obra de investigação jornalística.
Baseado em fontes próximas (algumas arriscaram as suas carreiras ao prestarem declarações) e com apurada descrição dos factos públicos, as autoras Sheera Frenkel e Cecilia Kang não só descrevem a ascensão da rede social, mas também os processos internos das tomadas de decisão e as estratégias implementadas.
Com o espaço longo que só um livro permite, as escritoras conseguem aproximar o leitor do tom de algumas reuniões, do mecanismo interno da poderosa empresa. No centro está a interação entre os dois líderes: Marck Zuckerberg e Sheryl Sandberg. A parceria entre eles forjou o Facebook que conhecemos.
A rede é atualmente um gigante monopolista que, com receio da concorrência, compra eventuais concorrentes tornando o internauta refém do seu ecossistema. Mas não só. Para não afugentar os republicanos, Zuckerberg decidiu permitir notícias falsas e publicidade enganosa com o pretexto da liberdade de expressão. Esta estratégia permitiu disseminação de discurso de ódio nos EUA e noutros países com resultados trágicos como sucedeu em Myanmar com o ataque à minoria Rohingya . Na voragem de expansão e mesmo após avisos atempados o Facebook fomentou a criação dos grupos fechados que previsivelmente foram terreno fértil para aglomerar os perigosos negacionistas e radicais.
Quando são obrigados a depor, os responsáveis reptem ciclicamente o seguinte mantra: pedem desculpa, prometem melhorar e deixam tudo na mesma. Partem também para a ofensiva e reforçam a imagem de liberdade e de baluarte americano contra os concorrentes chineses. Esta actuação é deliberada e drena num investimento colossal em lobistas. A estratégia é, temos de reconhecer, um sucesso. Até à data o Facebook mantém-se intacto e o seu CEO retém um poder quase absoluto.
Alguns factos recentes podem indicar alguma mudança. O último apagão, que deixou muitos utilizadores sem acesso aos seus serviços, pode ter ajudado o mais incauto a perceber a excessiva dependência dos serviços do Facebook. O Instagram para crianças foi aparentemente cancelado e a administração Biden parece querer monitorizar Zuckerberg. No entanto, como se viu com o Brexit, os governos e sociedades europeias não podem ficar arredadas deste tema.
Sem cair no julgamento fácil de negar a importância da tecnologia para a nossa sociedade, os factos que este livro descreve merecem estar no centro da agenda política do velho Continente.
A nossa democracia só pode ficar mais for forte se as redes que nos ligam promoverem o debate saudável baseado em factos.

Por Luís Monteiro
ORCID | LInkedIN

 

 

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