Meta-análise: apendicectomia ou antibioterapia?




Pergunta clínica: Qual a eficácia do tratamento inicial de doentes com apendicite aguda não-complicada com antibioterapia em comparação com a apendicectomia imediata?

Enquadramento: A apendicectomia tornou-se obrigatória desde que a apendicite aguda foi identificada como uma grande causa de sépsis e mortalidade. Contudo, o longo dos anos, alguns estudos tentaram demonstrar o sucesso de outras opções terapêuticas.

Desenho do estudo: Meta-análise realizada por pesquisa de estudos na Medline, Embase, Cochrane Cetral Register of Controlled Trials, PubMed, Internationa Clinical Trials Registry Platform Search Port, assim como em listas de outras revisões sistemáticas. Os estudos reportavam-se à comparação entre a utilização da apendicectomia e antibioterapia em doentes com apendicite não perfurada. Teriam de ser datados entre Janeiro de 2011 e Dezembro de 2015. Nos artigos considerados elegíveis foram procurados os seguintes dados: tamanho da amostra, características dos participantes, regimes de antibioterapia e detalhes de cirurgia.

Resultados: Dos 685 artigos identificados, foram incluídos 6, um deles relativo à população pediátrica. Apendicectomia até 1 mês depois: dos 550 doentes submetidos a tratamento com antibioterapia, 47 foram submetidos a apendicectomia (os resultados variaram entre 4,8 e 11,7%) (evidência de alta qualidade). Complicações major (perfuração do apêndice, infecção profunda, hérnia incisional, obstrução intestinal): 25 em 510 doentes sob antibioterapia tiveram complicações em comparação com 41 dos 489 doentes apendicectomizados. Diferença de risco de -2,6% (IC 95%, -6,3 a 1,1%) (evidência de baixa qualidade). Complicações minor (infecção da ferida cirúrgica, diarreia, desconforto abdominal): 11 em 510 doentes sob antibioterapia tiveram complicações em comparação com 61 dos 489 doentes apendicectomizados. Diferença de risco de -7,2% (IC 95%, -18,1 a 3,8%) (evidência de baixa qualidade). Recorrência da apendicite ao fim de 1 ano: 22,6% dos doentes que fizeram antibioterapia tiveram recorrência (entre 15,6 e 20,4%) (evidência de alta qualidade). Duração do internamento: os doentes submetidos a apendicectomia tinham duração de internamento inferior. Uma diferença de cerca de 0,41 dias (IC 9%, 0,26 a 0,57 dias) (evidência de moderada qualidade). Duração da incapacidade: a diferença de -3,58 dias encontrada favorece a antibioterapia (IC 95%, -8,27 a 1,11 dias) (evidência de muito baixa qualidade).

Comentário: Na prática, a maior parte dos pacientes tratados apenas com antibiótico, teve um bom resultado. Contudo, 1 em cada 5 desses pacientes teve uma recorrência da apendicite. Os resultados desta meta-análise indiciam que, no futuro, a decisão terapêutica na apendicite aguda deverá incorporar um processo de decisão médica partilhada entre médico e paciente, a decisão entre a cirurgia e a antibioterapia. 

Artigo original: Br J Surg

Por Mariana Rio, UCSP Mesão Frio 






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