As glitazonas duplicam o risco de fractura óssea nas mulheres

Comentário à meta-análise “Long-term use of thiazolidinediones and fractures in type 2 diabetes”

Por Carla Lopes da Mota, Mariana Morais, Helena Beça (CS de Espinho)

Na meta-análise referida verificou-se que a Rosiglitazona e a Pioglitazona dobram, aproximadamente, o risco de fractura em mulheres, mas não em homens.

Orientações da NICE

Os médicos devem considerar os alertas da “Medicines and Healthcare products Regulatory Agency“ (MHRA) e seguir as guidelines da NICE relativamente à terapêutica com Glitazonas. Não é recomendado o início ou a continuação do tratamento com a Glitazona em pessoas com risco elevado de fracturas, para além do seu risco cardiovascular, que deve ser sempre avaliado.

O ensaio ADDOPT, de 2006, já apontava para a associação entre o risco de fractura e o tratamento com estes anti-diabéticos orais. Foram enviadas cartas dos fabricantes da Rosiglitazona e da Pioglitazona aos profissionais de saúde, no início de 2007, e em Outubro de 2007 a MHRA chamou atenção para este facto no “Drug Safety Update”.

O que é que o estudo encontrou?

Esta meta-análise é constituída por 10 ensaios controlados e randomizados (ECR), cada um deles com uma duração de, pelo menos, 1 ano e envolve 13.715 doentes.

Verificou que a ODDS RATIO (OR) para fracturas com glitazonas comparadas com o grupo controlo (placebo ou outros fármacos hipoglicemiantes orais) era de 1,45 (para um IC de 95%: 1,18 – 1,79; P <0,001). Destes 10 ECR’s, 5 (com 11401 doentes) forneceram dados para a estratificação das fracturas por sexos e encontraram um aumento de risco de fracturas estatisticamente significativo nas mulheres, (OR 2,23, IC 95% – 1,65-3,01; P <0,001), não se tendo verificado o mesmo entre os homens (OR 1,00, IC 95% – 0,73 – 1,39;P=0,98).

Os autores do estudo aplicaram o aumento do risco ao risco base de fractura de mulheres com diabetes em 3 grupos de idades diferentes, retiradas dos estudos clínicos.

Entre as mulheres com uma média de idades de 56 anos e diagnóstico recente de diabetes, estimaram que para cada 55 mulheres tratadas com glitazonas por um período de um ano, uma mulher extra desenvolverá fractura, o que não ocorreria se não tivesse tomado a glitazona (number needed to harm =55). Isto é equivalente a 18 fracturas extra por cada 1000 doentes/ano.

Entre as mulheres pós-menopausa (idade média 65 anos), para cada 31 mulheres tratadas com glitazonas por um período de um ano, uma mulher extra desenvolverá fractura (number needed to harm= 31), equivalente a 32 fracturas por cada 1000 doentes/ano.

Na coorte de mulheres mais velhas (idade média de 72 anos) o número necessário para causar dano é de 21, equivalente a 48 fracturas extra por 1000 doentes/ano.

Uma limitação importante deste estudo é que a região de fractura (punho, anca e coluna) não foi avaliada. 

Conclusões da NICE

O risco aumentado de fractura parece claro com a utilização de glitazonas. É essencial avaliar este risco para além dos riscos cardiovasculares já conhecidos.

A NICE recomenda que as glitazonas não deverão ser iniciadas ou continuadas em pessoas com um risco aumentado de fracturas, como é o caso da diabetes mellitus.

Artigo original: http://www.cmaj.ca/cgi/content/full/180/1/32

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