Overdiagnosed, Making People sick in the pursuit of health

 

Livro “Overdiagnosed, Making People sick in the pursuit of health” 

 

Verão é sinónimo de férias, leituras, tranquilidade, descanso… O livro escolhido para as férias deste ano contrariou este descanso com um agradável desassossego!

Não se trata de um livro sobre a fisiopatologia da doença, nem um guia de tratamento de doentes. Trata-se de um livro sobre prevenção quaternária, a prevenção do “sobrediagnóstico” que resulta muitas vezes do acto médico infundado ou do acto médico não baseado na evidência. É um livro que ensina a abordar doentes saudáveis, que clarifica muito bem a diferença entre um utente portador de um factor de risco e um doente portador da doença.

O livro começa com uma metáfora entre um automóvel de 65, um Ford Fairlane, simples, com pouca electrónica, apenas com o sensor do nível do óleo e a temperatura do radiador, e um Volvo de 99 com sensores para tudo, ligados a um computador de bordo que comanda o automóvel. A melhoria e evolução do primeiro para o segundo é evidente, mas para o autor as melhorias no automóvel de 99 não se devem à presença de todos aqueles sensores que fazem diagnósticos do problema muito antes de acontecerem. Pode ser que estes sensores detectem realmente um problema que impeça o carro de andar, como o nível do óleo ou o combustível, mas a maior parte dos alertas são falsos alarmes. Chegamos mesmo ao exagero de ter um sensor que detecta se um dos outros sensores está avariado. Talvez alguns tenham impedido danos adicionais no motor, talvez alguns tenham impedido avarias e acidentes, mas de certeza que todos eles levaram a deslocações em excesso à oficina, a intervenções desnecessárias, a trocas de peças ainda em óptimo estado, a gasto de dinheiro evitável, a perda de tempo, a preocupações da família que nesse dia teve que encontrar outro meio de transporte para se deslocar. Será que a medicina se está a tornar num automóvel com cada vez mais sensores? Esta metáfora serve de mote para fazer uma revisão baseada na evidência, de vários temas controversos como o rastreio de cancro da mama, próstata, osteoporose, HTA, genética….  A escrita é devidamente fundamentada e avalia quase sempre a especificidade e sensibilidade de alguns “pseudo-rastreios” de forma a fundamentar a sua utilização ou não, nunca esquecendo o principal objectivo que define o rastreio: a redução da taxa de mortalidade!

A leitura deste livro cativa do início ao fim. Confirma verdades conhecidas, e se alguma “verdade absoluta” daquelas que se aprende na faculdade ainda resta, é destruída com estudos isentos e objectivos. É um livro que inquieta a alma a cada capítulo e que deveria ser lido por todos os Médicos. Renovo o alerta feito pelo autor na sua introdução: “Não se trata de um livro para abordagem de doentes. Trata-se de um livro para evitar que nós, médicos, transformemos um utente em doente.”

AVISO: Este livro contém informação altamente inquietante!

 

Bruno Moreno, Médico Interno do 4º Ano de MGF USF-Serra da Lousã

 

 

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