Pergunta clínica: Deve ser recomendada a suplementação de cálcio e vitamina D para redução de fraturas na população idosa?
População: doentes não institucionalizados com idade > 50 anos
Intervenção: suplementação de cálcio e/ou vitamina D
Comparação: suplementação de cálcio e/ou vitamina D vs placebo ou a ausência de tratamento
Outcome: fraturas da anca como outcome primário; fraturas não vertebrais, fraturas vertebrais e fraturas totais como outcomes secundários.
Enquadramento: As fraturas, em particular, as fraturas da anca são muito comuns na população mais idosa, devido ao enfraquecimento ósseo, o que pode levar ao aumento da fragilidade da população mais idosa. Por outro lado, a vitamina D e o cálcio são necessários para o fortalecimento e reconstrução óssea. Sabe-se, também, que a população idosa apresenta baixos níveis de vitamina D e cálcio devido à falta de exposição solar e ao baixo consumo dietético. Por essa razão, tem vindo a ser sugerido que a suplementação com cálcio e vitamina D pode reduzir o risco de fratura óssea, particularmente em doentes institucionalizados.
Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise. Pesquisa de estudos randomizados, meta-analises e revisões sistemáticas na PubMed, Cochrane e EMBASE com as palavras-chave “calcium”, “vitamin D” e “fracture”, sem limites linguísticos e com limite temporal de 10 anos. Foram incluídos 33 estudos. Dois revisores avaliaram independentemente os estudos publicados quanto aos critérios de inclusão e qualidade metodológica, utilizando uma ferramenta de pontuação padrão de risco de viés. Os desacordos foram resolvidos por consenso. Dos 33 estudos incluídos: 1 ensaio foi de baixa qualidade, 6 foram de alta qualidade e o restante foi de qualidade moderada.
Resultados: As análises realizadas aos diferentes subgrupos não demonstraram diferenças com base na dosagem de cálcio ou vitamina D, sexo dos doentes, história de fratura, ingestão dietética de cálcio ou concentração sérica basal de 25-hidroxivitamina D. Em comparação com o placebo ou com a ausência de tratamento, não se verificou que a suplementação com cálcio tenha reduzido o risco de fratura de forma estatisticamente significativa: fratura da anca (RR 1,53; IC 95% 0,97 a 2,42), fraturas não vertebrais (RR 0,95; IC 95% 0,82 a 1,11), vertebrais (RR 0,83; IC 95% 0,66 a 1,05); nem o número total de fraturas (RR 0,88; IC 95% 0,75 a 1,03). Não se verificou que a suplementação com vitamina D em comparação com o placebo ou a ausência de tratamento tenha reduzido o risco de fratura da anca (RR 1,21; IC 95% 0,99 a 1,447) ou fraturas não vertebrais (RR 1,10; IC 95% 1,00 a 1,21). O mesmo foi verificado com a suplementação conjunta de cálcio e vitamina D: fratura da anca (RR 1,09; IC 95%, 0,85 a 1,39), fratura não vertebral (RR 0,88; IC 95% 0,75 a 1,03), fratura vertebral (RR 0,63; IC 95% 0,29 a 1,40) ou o número total de fraturas (RR 0,90; IC 95% 0,78 a 1,04).
Conclusão: A utilização de cálcio e vitamina D, isoladamente ou em combinação, não reduz o risco de fratura da anca, de fraturas vertebrais, não vertebrais ou de fraturas totais em doentes idosos não institucionalizados.
Comentário: Estes resultados, de alguma forma, colocam em dúvida a suplementação com cálcio e vitamina D na população idosos em geral. Até à data, todos os estudos realizados nesta faixa etária e que motivavam as recomendações para a suplementação, eram baseados em populações de idosos institucionalizados, o que constitui um enviesamento. Em suma, parece não existir, de momento, evidência para a suplementação com cálcio e vitamina D da população idosa em geral.
Por Cláudia Pereira, USF UarcoS