Carta ao Orientador

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos.”

Marcel Proust

 

VERÃO/2013:

“Caro Orientador, já tenho saudades da nossa prática em equipa.

Fui muito bem recebido pelo médico e pela sua família. Entre falar e perceber francês, inglês e espanhol, chego ao fim do dia a falar mais “francinglês”. Um pouco cansativo! A vila é muito bonita, com recantos interessantes e muitas pessoas que vivem cá estão na reforma. O consultório é agradável e espaçoso, em contexto de prática clínica privada. O médico tem um ficheiro de pessoas que acompanha, mas qualquer pessoa pode recorrer a consulta. Aqui, os enfermeiros têm actividade privada, mas cooperam com os médicos. O volume de domicílios é maior do que no nosso contexto.

Até breve.”

Uma experiência é sempre uma aprendizagem importante para a vida e é importante expandir o contexto de experiências. O programa Hippokrates no âmbito do Movimento Vasco da Gama é uma oportunidade para concretizar uma actividade formativa profícua e que permite “ter novos olhos”. A viagem até outro país é um percurso que se desenrola não só numa perspectiva geográfica e temporal, mas também se reveste de fenómenos de transformação intrínseca. Um processo enriquecedor, mas nem sempre pacífico, em que somos confrontados com realidades, crenças e opiniões iguais e diferentes daquelas que o percurso formativo nos determinou até então. No extremo da opinião podem surgir conceitos e dogmas que defendem que um estágio curto em Cuidados de Saúde Primários noutro país é dispensável. Noutro extremo dirão que é indispensável no percurso formativo profissional e pessoal.

Numa perspectiva equilibrada, e após realizar este estágio, cinco questões podem ser destacadas:

– Se eu podia viver sem este estágio? Podia, mas não era a mesma coisa.

– Se mudou alguma coisa? Mudou muita coisa. Uma experiência muito gratificante, que me permitiu alargar horizontes, potenciar os meus conhecimentos e competências de adaptação, e mais importante, fazer novas amizades.

– Se é preciso sair do país? A minha opinião é que, muitas vezes viajamos para outro país sem realmente conhecer o nosso. Uma experiência não substitui outra. Também é interessante conhecer outros contextos de prática clínica no próprio país, como já pude verificar e ainda tenho como objectivo futuro.   

– Se esta é a melhor etapa para esta experiência? As características e objectivos inerentes ao internato são os ideais para a sua concretização. Não menos importante é a motivação da pessoa.

– Se aconselho a alguém? Sem dúvida. A todos que quiserem.

 Philippe Botas

 

MaisOpinião - Philippe Botas
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